Kátia Abreu leva Ciro de volta para seu aconchego, longe da esquerda. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 8 de agosto de 2018 às 17:11
Kátia e Ciro, Ciro e Kátia

A vice de Ciro faz parte da política e joga luz a algumas veleidades.

Não sou daqueles que criticam o Ciro Gomes por ter escolhido Kátia Abreu para compor a sua chapa. E não o critico nesse ponto por várias razões, entre elas duas muito simples.

A primeira porque, à exceção de certos iluminados que buscam na política a pureza que não encontram nem nos seus mais simplórios atos cotidianos, a vida exige diálogo com os diferentes, com os contraditórios, com os antagonistas.

A segunda porque não foi exatamente uma “escolha”. Não tendo conseguido convencer mais ninguém além do ridículo Avante para se coligar, o que sobrou foi mesmo Kátia Abreu.

A despeito de todas as suas contradições, da turma que ainda segue com Ciro, é a única que ganhou projeção nacional no campo progressista (que não é o dela) a partir da defesa que fez à Dilma Rousseff e seu posicionamento contundente contra o golpe de 2016.

Dito isso, o que, a meu ver, realmente importou nesse episódio foi o fato dessa “escolha” ter jogado luz sobre alguns pontos que alguns ainda teimam em se enganar ou tentar enganar, a depender de um ou do outro, por ignorância ou por oportunismo.

Ciro Gomes jamais foi de esquerda.

Partidos em que se refestelou alegremente com seus convivas como o PDS, o PMDB e o PSDB já deveriam deixar isso muito claro. Declarações e entrevistas mais recentes que deu à velha mídia conservadora só vieram a confirmar.

Sem querer entrar mais nesse mérito, porque sinceramente não discuto obviedades, o que Kátia Abreu veio a fazer foi colocar as coisas nos seus devidos lugares.

Já como vice de Ciro Gomes, a defensora do desmatamento, da grilagem de terras e da chacina de índios não se intimidou em defender também o porte de armas e se posicionar contra o aborto. Pautas dignas de um Jair Bolsonaro, vejam que ironia.

O fato é que a dupla, por força das circunstâncias, se posiciona no espectro político, digamos, mais próximo de suas realidades: na melhor das hipóteses, o centro.

É um direito inalienável de cada um votar em quem considera a melhor opção entre os apresentados. O que não considero digno é escolhê-lo a partir de uma mentira.

No segundo turno, a esquerda se encontrará inevitavelmente com Ciro Gomes e estaremos todos juntos. Até lá, no entanto, é preciso que quem vote nele no primeiro turno esteja ciente que defende uma chapa que definitivamente não é de esquerda.

Se para você está tudo bem, por favor não critique as demais coligações.