Katia Abreu nos ensinou uma lição: VAMOS. FAZER. UM. ESCÂNDALO. Por Nathalí Macedo

Atualizado em 10 de dezembro de 2015 às 21:45
Fez um escândalo
Fez um escândalo

Toda grande família tem um Serra. Aquele tiozão barrigudo e preconceituoso que se acha engraçadíssimo contando a pida do “pavê ou pacumê”?

Aquele que fala que o seu vestido está curto demais, que você fica melhor usando cabelos longos ou diz que todos os políticos são corruptos e – se você for mesmo sem sorte – que a solução para o Brasil é a intervenção militar.

Aquele que diz que uma mocinha não pode comer tanto e deveria sentar-se mais elegantemente. Aquele que critica, às gargalhadas, os seus amigos homossexuais. Aquele que faz você quase perder as estribeiras em pleno jantar natalino.

Serra chamou Katia Abreu de namoradeira, e ela e todas nós sabemos que este é um eufemismo deslavado para criticar a liberdade sexual de uma mulher – que, aliás, não interessa a ninguém além dela mesma.

Exatamente como o tiozão do pavê, quando diz que você deveria falar mais baixo, sair menos, ter menos amigos homens e usar roupas mais “comportadas” – eufemismos deslavados que escondem o machismo ainda gritante nos principais ambientes nos quais convivemos.

Até a última reunião de família, eu sorria constrangida e oferecia mais sobremesa para que o tiozão talvez preenchesse a boca e parasse de destilar o seu preconceito em plena noite feliz, mas Katia Abreu nos ensinou uma lição: VAMOS. FAZER. UM. ESCÂNDALO.

Mesmo que pareça brincadeira, mesmo que digam que você está exagerando, que vê machismo em tudo e que precisa ser mais pacífica – não tenhamos mais medo de parecermos problemáticas, loucas, histéricas. Afinal, não raro, já levamos esta fama mesmo quando nos calamos diante de comentários inoportunos.

Na próxima vez em que for importunada pelo tio do pavê – ou por aquele amigo que diz que “tudo bem ser feminista, mas você está ficando chata”, ou aquela prima que diz “credo, você prefere passar o rodo a arranjar um namorado” – reaja.

Não precisa ser vinho. Serve rabanada, um pedaço de panetone ou o par de meias que a sua avó te deu de presente. Só não serve o silêncio.

Porque quanto mais Katias menos Serras.