Kennedy Alencar: Trocar status especial na OMC por vaga na OCDE é mau negócio

Atualizado em 16 de janeiro de 2020 às 12:14

Publicado originalmente no Blog do autor:

POR KENNEDY ALENCAR

Só o complexo de vira-latas pode levar o Brasil a comemorar um mau negócio: abrir mão do status especial na OMC (Organização Mundial do Comércio) em troca do apoio americano à entrada do país na OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico).

Segundo Nelson Rodrigues, o complexo de vira-latas é o brasileiro se colocar em posição de inferioridade perante o estrangeiro de uma forma voluntária e submissa.

No atual estágio de desenvolvimento econômico do Brasil, faria muito mais sentido permanecer na OMC com o status especial, porque isso seria importante para defender nossos exportadores, sobretudo o agronegócio. Mas o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Relações Exteriores, Ernesto Araújo, atenderam ao lobby americano para o Brasil perder força na OMC em troca de suporte para ingressar na OCDE _algo que, na prática, trará poucas vantagens ao país.

Os interesses nacionais saíram perdendo com o terraplanismo diplomático de Ernesto Araújo. O ministro disse que o episódio OCDE seria prova “uma vez mais de que estamos construindo uma parceria sólida com os EUA”.

Mentira. Não há parceria sólida com os EUA, mas submissão ao presidente Donald Trump.

Aliás, seria mais importante o Brasil se preocupar com o acordo comercial que está sendo fechado entre Washington e Pequim. A China se comprometeu a importar dos americanos mais US$ 200 bilhões em dois anos. Que país deverá perder mercado? O Brasil, porque os EUA competem conosco em produtos que interessam à China.

A ignorância geopolítica de Bolsonaro foi mais longe com a notícia de que o Brasil deixará a Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos). Brasília abre mão de projeção geopolítica na América Latina, atendendo, de novo, a interesses de Trump.

Bolsonaro é o nome da tragédia brasileira.