‘Kids pretos’ perdem espaço no Alto Comando do Exército após era Bolsonaro

Atualizado em 24 de novembro de 2024 às 14:22
Jair Bolsonaro. Foto: Divulgação

O Alto Comando do Exército, composto pelos 16 generais quatro estrelas da Força, não conta mais com militares conhecidos como “kids pretos”, formados nas Forças Especiais, marcando o fim de uma era de influência que se consolidou nos últimos dez anos. Essa ausência reflete fatores internos, desgaste político e mudanças nas dinâmicas de promoção dentro da instituição.

Conforme apuração da Folha, até o final de 2022, quatro generais com formação nas Forças Especiais desempenhavam funções estratégicas no Exército: Marco Antônio Freire Gomes, Júlio César de Arruda, José Eduardo Pereira e Estevam Theophilo.

No entanto, a ascensão de militares com essa formação ao Alto Comando perdeu força devido à escassez de candidatos aptos à promoção e ao desgaste causado pela atuação desses oficiais no governo de Jair Bolsonaro (PL).

Durante o período de 2019 a 2022, ao menos 28 militares das Forças Especiais integraram o governo federal, incluindo os generais Luiz Eduardo Ramos e Mario Fernandes. Essa exposição desgastou a imagem interna do grupo, segundo fontes do Exército ouvidas sob anonimato.

O apelido “kids pretos” refere-se aos militares formados nos cursos de Operações Especiais do Exército, que utilizam boinas pretas como símbolo. Esses oficiais passam por treinamentos rigorosos, incluindo saltos de paraquedas, ações de sabotagem e resistência a condições extremas.

Kids pretos. Foto: Divulgação

Atualmente, o Exército possui cerca de 2.500 militares com formação em Forças Especiais, representando pouco mais de 1% do efetivo total. As principais bases desse grupo estão localizadas em Goiânia (GO), Rio de Janeiro e Manaus (AM).

Os “kids pretos” enfrentam escrutínio após a Polícia Federal identificar a participação de membros do grupo em planos golpistas após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022. Dos 37 indiciados, 12 são ligados às Forças Especiais, incluindo o general da reserva Mario Fernandes e o tenente-coronel Rafael Martins de Oliveira.

Mario Fernandes, ex-chefe do Comando de Operações Especiais, é acusado de liderar um plano para assassinar Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes. Ele e Rafael participaram de reuniões no Palácio do Planalto em dezembro de 2022, onde discutiram os planos, segundo as investigações.

Além do desgaste político, a exclusão dos “kids pretos” reflete rivalidades internas no Exército. Historicamente, o grupo compete com os precursores paraquedistas, que têm símbolos semelhantes, mas utilizam boinas vermelhas. O atual comandante do Exército, general Tomás Paiva, é originário dos precursores, o que pode ter influenciado na redefinição das prioridades dentro da instituição.

A ascensão dos “kids pretos” na última década foi impulsionada por operações de destaque, como a atuação no Haiti, e pelo corporativismo interno. No entanto, os recentes escândalos e mudanças na liderança do Exército podem sinalizar uma nova era na configuração do Alto Comando, marcando o fim de um ciclo para as Forças Especiais.

Conheça as redes sociais do DCM:

Facebook: https://www.facebook.com/diariodocentrodomundo

🟣Threads: https://www.threads.net/@dcm_on_line