Kika e Jabor

Atualizado em 22 de janeiro de 2011 às 21:12
Kika

Kika Salvi namorou Jabor.

Bem, eu sabia disso há muito tempo.

Todo mundo sabia.

Kika falava disso para muitas pessoas, nas quais despertava uma mistura de inveja e desprezo. Inveja porque Jabor é uma semicelebridade, desprezo porque desconfiavam de algum tipo de alpinismo social.

E as pessoas tratavam de espalhar. Sobretudo as inconfidências de alcova.

Kika é uma boa jornalista, e uma das mais bonitas de sua geração, hoje na casa dos 40. Quem a descobriu foi Marco Rezende, editor da VIP na década de 90. Com sua beleza tímida de mulher do interior, seus cabelos cacheados de filha semítica de Judite, sua pele clara que ruborizava fácil, Kika conquistou corações na Abril. E com seus textos cândidos sobre sexo, conquistou também os leitores.

Foi a melhor colunista de sexo que vi no Brasil. Levei-a para a Playboy, quando supervisionei a revista. Mas ela já não tinha prazer em escrever sobre sexo, em parte porque a Playboy não era a Vip, uma revista que era a cara dela. E em parte porque Jabor fazia objeções ao fato de sua namorada ser colunista de sexo. Na Vip você tinha que segurar Kika. Na Playboy, empurrar.

Ela escreveu um bom livro sobre sua experiência na Vip, “Kika, a Estranha”. Cita uma história tempestuosa de amor que todos na redação  acompanhavam quando mais não fosse porque era impossível não ouvir as discussões telefônicas. Discretamente, designa como “o diretor” o homem do caso.

Era eu.

Kika decidiu publicar a história com Jabor, que está na última Alfa.

O homem que emerge não me surpreende. Jabor é, aos 70 anos, um adolescente emocional, segundo você lê em Kika.

Ou um anão interior, numa visão menos generosa.

Alguns destaques do texto, que Kika afirma ter passado antes a Jabor sem que ouvisse dele sérias restrições.

# Jabor não consegue aceitar o envelhecimento e muito menos a morte. Faz reflexos no cabelo, rasga fotos em que acha que parece velho e se chama de ‘gatinho’, nem sempre ironicamente.

# Sem a menor cerimônia, se define como “o maior texto da imprensa brasileira, numa boa”. Este é o tipo de coisa que só não é ridícula quando você a ouve. Quando você  mesmo diz, mostra insegurança e megalomania ao mesmo tempo.

Não admiro nem a embalagem gongórica dos textos de Jabor e muito menos o conteúdo direitista e retrógrado. Perto de Nelson Rodrigues, seu grande inspirador, é um nanico.

Um pintor de rodapés.

Mas quando Jabor olha para o espelho enxerga o melhor texto da imprensa brasileira. Numa boa.

Assim é, se lhe parece.