Lacalle é a direita civilizada: O que o Uruguai tem que nós não temos? Por Moisés Mendes

Atualizado em 11 de agosto de 2020 às 11:13

Vale a pena rever essa cena, enquanto o Brasil constata, diante de mais de cem mil mortos, que Bolsonaro seguirá adiante com seus crimes, sem que ninguém consiga detê-lo.

É uma foto de 26 de maio. Luis Alberto Lacalle Pou deixa a residência de Tabaré Vázquez com um caderninho na mão.

O atual presidente, de direita, vai ao encontro do ex-presidente, de esquerda, para ouvi-lo sobre como combater a pandemia.

Sem seguranças, sem assessores para tomar nota, sem medo de ser atacado pelos dois lados.

Lacalle Pou foi ouvir um médico, mesmo que Tabaré não seja especialista em saúde pública.

Mas o que ele foi fazer mesmo é mandar um recado aos que depois veriam a foto: o que eu fizer contra a pandemia tem, no que é essencial, o apoio do meu adversário político.

O Uruguai teve uma das ditaduras mais ferozes nos anos 70 e 80. O pai de Lacalle Pou, o ex-presidente Luis alberto Lacalle, foi um conservador correto e democrata, líder do partido Nacional, dos blancos.

O Brasil não tem mais essas figuras de centro-direita com a grandeza dos Lacalle, por mais que se discorde das suas posições políticas.

Essa direita civilizada tem o direito de compartilhar até com adversários o êxito do controle da peste.

Desde o começo da pandemia, sem fazer lockdown, mas com altos índices de isolamento, o Uruguai teve 1.364 casos de Covid-19, com apenas 37 mortes.

Do total de infectados desde o começo, 256 são médicos, enfermeiros e outros profissionais da saúde, o que é um índice considerado alto. Mas somente um deles morreu, segundo o jornal El Pais.

Atualmente, há 181 casos de infectados no Uruguai. Ontem, em todo o país, as UTIs estavam ocupadas por quatro pessoas. Quatro.

A pandemia não é mais manchete dos jornais uruguaios, mas há uma preocupação. Todos os dias 24 de agosto o país faz a Noite da Nostalgia.

Clubes, bares, restaurantes, boates e casas têm uma das maiores lotações do ano, quando todos os lugares só tocam músicas antigas.

É uma tradição que que vem desde 197 e cai na véspera do 25 de agosto, feriado da independência.

Liberar ou não a Noite da Nostalgia? Esse é o grande debate no Uruguai hoje. A previsão é de que Lacalle Pou não irá liberar.

E não haverá uma extrema direita organizada e com expressão para tentar boicotá-lo e jogá-lo contra parte da população que deseja a festa.

Os Bolsonaros do Uruguai estão sob controle.