Lacalle escondeu Bolsonaro para evitar o vexame de Macri na Argentina. Por José Cássio

Atualizado em 28 de novembro de 2019 às 17:51
Lacalle escondeu o apoio mas comunga das mesmas ideias de Jair (Imagem: reprodução)

Para chegar à presidência do Uruguai, após uma primeira tentativa frustrada, o direitista Lacalle Pou tomou uma medida certeira assim que as urnas confirmaram o seu nome no segundo turno: afastar-se de Jair Bolsonaro.

O advogado de 46 anos e filho do ex-presidente Luís Alberto Lacalle, que governou o país entre 1990 e 1995, mandou um recado ao capitão.

“Não é bom que governantes emitam ou opinem no que pode se passar em outro país. Se eu fosse presidente da República e houvesse um processo eleitoral no Brasil, por mais que eu gostasse mais de um do que de outro, esperaria os resultados, pois, ganhe quem ganhar, é com ele que tenho que me dar bem”.

Para bom entendedor, poucas palavras bastam.

Lacalle estava tentando evitar o tsunami que acabava de devastar a candidatura de Maurício Macri na Argentina – recebeu o capitão na Casa Rosada e praticamente teve de sair pela porta dos fundos após a lavada que tomou de Alberto Fernández.

“O que queremos é que na América do Sul ninguém mais flerte com o socialismo, como infelizmente aconteceu na Venezuela”, foi o comentário desastroso de Bolsonaro em Buenos Aires e que jogou a pá de cal na campanha pela reeleição de Macri.

Ex-deputado e ex-senador do Uruguai, Lacalle Pou é conhecido como herdeiro de um movimento político conhecido no país como “herrerismo”. É uma referência a seu bisavô paterno, Luis Alberto de Herrera, que integrou um Executivo colegiado na década de 50.

Conservador e de direita, negou o apoio mas defende para o Uruguai um modelo sócio econômico parecido com o que está sendo adotado no Brasil, com cerco ao que chama de criminalidade e redução dos gastos do Estado.

Outro ponto em que se identifica com o capitão é a aliança que fez após o segundo turno, agregando em torno da sua candidatura partidos e organizações de extrema-direita como o Open Cabildo, criada recentemente pelos admiradores militares de Jair.

Os cientistas políticos do Uruguai colocam Lacalle Pou dentro do modelo da direita cristã, com forte influência do catolicismo mais conservador.

É, em síntese, descrito como um líder que possui elementos do macrismo argentino, do militarismo de Bolsonaro e do liberalismo chileno de Sebastian Piñera.