Lacrar com imagem de Jesus cansou e só tem um efeito: colocar trabalhadores contra a esquerda. Por Igor Santos

Atualizado em 26 de dezembro de 2020 às 13:23
Fábio Porchat na enésima interpretação sobre Cristo “diferente”

Essas tentativas de lacrar com vídeos ou declarações com Jesus supostamente gay ou trans, ao gosto da “militância”, são esforços que servem apenas para colocar os trabalhadores contra a esquerda.

Uma coisa somos nós que tivemos o privilégio de acessar outras linguagens e leituras e outra completamente diferente é o trabalhador periférico e semialfabetizado que integra os 14 milhões de desempregados.

Esse trabalhador ou essa trabalhadora se sentem acolhidos pelas igrejas de garagem e da teologia da prosperidade. Quando vêem uma anedota ou esquete com Jesus sendo interpretado como um homossexual ou transgênero, se escandalizam.

Então, no final, o que parece revolucionário por quebrar tabus serve apenas para afastar do diálogo a classe trabalhadora precarizada e a esquerda.

No fim, não serve para combater homofobia, não serve para aprofundar debate sobre Jesus histórico, não serve para nada além de afastar as pessoas de uma caricatura que infelizmente a direita jogou como esquerda, e parte da “esquerda” abraçou como sendo isso mesmo.

Reparem bem, a teologia da libertação, marco importante de aproximação da classe trabalhadora latino-americana com camponeses e operários, em momento algum se serviu desse expediente para fazer agitação e propaganda.

Muito pelo contrário, a partir da própria Bíblia e uma visão que integra Jesus teológico e Jesus histórico, as comunidades eclesiais de base (CEB) trouxeram Jesus e seus ensinamentos para uma escatologia cotidiana, capaz de gerar questionamentos de natureza classista, inspirar a organização dos trabalhadores em seu local de trabalho, igreja e bairro, falar de ecologia, economia e outros elementos.

Na política, assim como na vida, não se dialoga com ninguém apontando o dedo e acusando, muito menos assustando e escandalizando.

Precisamos de mais Dom Hélder e Papa Francisco e menos linguagem neutra e comediantes da Zona Sul carioca. Isto é, se nossa meta for conquistar corações e mentes para um projeto de transformação social.