
Publicado originalmente pelo GGN:
A cartunista Laerte Coutinho é a convidada do Cai Na Roda deste sábado (8/8). Ela falou às jornalistas da redação do GGN sobre o trabalho criativo e um tanto jornalístico do cartum editorial, suas inspirações e como a charge pode influenciar na cena política.
“Faz parte dessa falsa modéstia do cartunista dizer que uma charge não derruba um governo, mas existe uma influência. Estou me baseando em um texto do Henfil, na verdade um diálogo do Henfil com o Tárik de Souza em que eles tecem considerações sobre o que é fazer humor político e gráfico. Ele tinha informações de que reuniões lá no gabinete do [presidente] Figueiredo se davam depois que ele escrevia a página dele na IstoÉ, que falava de política. Então às vezes a gente não se dá conta disso [do poder de influência]. A gente tem uma mistura de modéstia com ambição de mudar a realidade do mundo com a charge”, disse.
Laerte abordou ainda sobre o episódio de tentativa de censura do governo Bolsonaro ao cartunista Aroeira. Ali, por meio de um movimento de “charge continuada” (quando vários artistas reproduzem a peça censurada com seu próprio traço), Laerte verificou uma maior pluralidade no meio. Mais mulheres e negros estão desenhando e cavando seu espaço numa área que, por décadas, é dominada pelo “homem, cis e branco”.
Laerte também falou um pouco sobre as personagens Deus e Muriel/Hugo, seu alter ego, e a fase da charge política durante o regime militar. Comentou sobre sua experiência pessoal na transição de gênero e a violência que é depositada sobre as pessoas trans por causa de classe social e cor da pele.
Entre outros assuntos, ela, que se coloca à esquerda na política, também passou a mensagem de que é preciso resistir nos tempos atuais. “O que a gente tem a fazer agora é isso: extrair esse celerado do governo. Esse governo é um desastre que precisa ser removido o mais rápido possível”, comentou.
Participaram desse episódio do Cai Na Roda as jornalistas Lourdes Nassif, Cintia Alves, Patrícia Faermann e Tatiane Correia.