Lance Armstrong precisa ler Lance Armstrong

Atualizado em 26 de agosto de 2012 às 3:59
"Você precisa aceitar que, um dia, fracassará"

Lance Armstrong teve tudo e perdeu tudo. O maior ciclista da história foi sete vezes campeão do Tour de France, a prova mais célebre da modalidade. A USADA (U.S. Anti-Doping Agency) o acusou de envolvimento numa “conspiração de doping”, cassou seus troféus e o baniu do ciclismo. No último dia 23, em seu site, Armstrong avisou que estava cansado. “Há uma hora na vida de um homem em que ele deve dizer: ‘Já é o bastante’. Essa hora é agora. Estive lidando com acusações de que trapaceei e tive vantagens nos meus sete Tours desde 1999. Nos últimos três anos, fui vítima de uma investigação criminal seguida por uma caça às bruxas inconstitucional promovida por Travis Tygart”. Tygart é o CEO da USADA.

Ele termina afirmando que, em outubro, sua fundação vai comemorar 15 anos a serviço de gente com câncer e que tem trabalho a fazer (ele foi diagnosticado com a doença aos 25 anos). “Estou querendo pôr um fim nessa distração sem sentido”, escreveu. O uso de substâncias ilícitas faz parte do esporte, mas no Tour de France, com seus 3 mil quilômetros por estradas sinuosas e montanhas, chegou ao estado da arte. É assim desde 1903. Os corredores usavam álcool e éter para suportar as dores. Cunharam um ditado: no dope, no hope. Lançavam mão de nitroglicerina, para estimular o coração depois de ataques cardíacos, e estricnina em doses pequenas, para relaxar os músculos. Só em 1965, depois de casos de alucinação, viciados, mortos e surtados em ziguezague, o doping foi proibido oficialmente – o que, paradoxalmente, fez surgir uma indústria para criar outros estimulantes e driblar os exames.

O Tour de France, vencido por Armstrong sete vezes: nitroglicerina, estricnina e tudo o que a imaginação do doping permite

Armstrong testou positivo para EPO, hormônio sintético que aumenta a produção de células vermelhas no sangue. Mas está longe de ser uma exceção, o que não alivia sua situação. Provavelmente, como acontece com celebridades americanas pegas em delito, está servindo como exemplo. Se esse doping retroativo entrasse na moda, teríamos um provável batalhão de atletas perdendo títulos (no futebol, nem se fala). Armstrong sobreviveu a um câncer no testículo e dois tumores, ao FBI, a dois divórcios e a inúmeros escândalos. Aos 41 anos, ele deveria ler seu livro De Volta à Vida, lançado no Brasil, com lições bastante úteis para ele mesmo – e para quem já achou que tudo estivesse perdido.

“Você precisa aceitar que, um dia, fracassará”

“Nós temos capacidades não percebidas que às vezes emergem apenas nas crises. Então, há um proposito no sofrimento”

“Transforme um obstáculo numa oportunidade, um negativo num positivo”

“Há uma verdade essencial que você aprende. As pessoas morrem. E depois que você entende isso, todo o resto parece irrelevante. Tudo parece pequeno”

“Durante nossa vida, nós experimentamos tantos solavancos e lutamos contra a derrota, sob a chuva, apenas tentando ficar de pé e ter um pouco de esperança”

“Eu não fiz o que fiz pelo prazer; eu fiz pela dor”

“A dor é temporária. Pode durar um minuto, uma hora, um dia ou um ano, mas no final ela passa e algo toma o seu lugar”

“Quando você pensa no assunto, que escolha tem senão a esperança? Você tem duas opções, medica ou emocionalmente: desistir ou lutar como no inferno”

“Há uma confluência de eventos e circunstâncias e nós nem sempre sabemos qual seu sentido, ou mesmo se existe algum. Mas nós podemos assumir a responsabilidade por nós mesmos e ser corajosos”