Lasciva: “Narrar minhas experiências sexuais é uma brincadeira divertida”

Atualizado em 19 de novembro de 2014 às 16:16

Lasciva
Lasciva

Narrar minhas experiências sexuais é uma divertida brincadeira. Adoro lembrar cada detalhe e contar tudinho pros outros. A conversa rola naturalmente em qualquer contexto: bebendo com os amigos no boteco, no intervalo da aula da faculdade, ou até no cafezinho do trabalho. Sempre arranjo público para ouvir as desventuras noite afora, saindo com pessoas, às vezes até tão loucas quanto eu, ou bem diferentes – atraio todo o tipo de gente.

Foi assim a minha vida inteira. Já tentei fazer diferente, nunca dá certo. Acho que não consigo me conter. Parece que só dou conta de e comunicar com ousadia, que até chega a chocar. Gosto de explorar limites: roupas hiper curtas, saltos bem altos, cores contrastantes. Sempre acabo aprontando e, quando abro a boca sai uma monte de putaria. Se deixar, passo o dia todo falando de sexo, ou fazendo, ou pensando, ou atrás de. Tenho muita libido, o que obviamente atrai uma galera, mas espanta tantos outros. Chega a ser engraçado quando relato tudo que faço.

Um dia, aos 26 anos, concretizei o antigo sonho de criar um blog para estampar minha vida sexual, como já fazia entre os meus amigos. Tentei ser o mais sincera que pude. Comecei a recapitular todas as histórias mais importantes, e também as mais intensas, mais deliciosas, mais engraçadas, divertidas ou até bizarras. Narrei várias delas pros amigos, gravando, para depois usar o áudio como referência e inspiração para o texto.

Queria escrever do jeito que eu costumo contar, com um toque de pimenta, para provocar tesão. Criei para mim um personagem que é quase rodriguiano, mas que é a mais pura tradução de mim mesma, Lasciva. Escancarei as pernas, abri-me totalmente, com o meu jeito desencanado da vida, tentando aproveitar. O blog se chamou Lasciva conta tudo.

Já imaginei outras formas de extravasar meu ímpeto sexual. Queria ser stripper, mas sou super desengonçada e não tenho corpão. Uma vez, achei que pegava tantos caras nada a ver, que pensei em me prostituir e lucrar com aquilo que mais gosto de fazer. Perguntei o que uma amiga achava, que tentou me dissuadir. Não precisou. Comecei a pegar vários caras diferentes na rua, para testar a minha reação e o que achava disso. Bati o meu recorde: sete caras num mês. Vi que tinha gostado mesmo de poucos. Além do mais, nem rolou de cobrar de nenhum. Concluí que se tentasse me vender por sexo, talvez deixasse até de gostar. Minha libido não é mercadoria.

Escrever todas as minhas taras foi como achei para derramar esse desejo. No blog e no Twitter, passei compartilhar muito do que vivia, sem pudores. Aliás, sempre me achei totalmente desprovida de pudor, nunca me provaram ao contrário. Expresso tudo que faço, badalando por aí, às vezes até em tempo real. Achei o máximo soltar-me livremente e ser tão depravada quanto eu puder. Sinto-me liberta de todas as amarras sociais ao encarnar minha personagem. Decidi enfrentar meus próprios monstros e me expor. Pelo prazer de não tentar parecer menos safada: serei o tanto quanto quiser, enquanto eu for a Lasciva. É assim que quero ser chamada.

A cada dia, aparecem novos internautas dispostos a ler minhas histórias, que passam a acompanhar minhas experiências. Criei uma gostosa relação virtual com o público. Chegaram tantos e tão distintos emails de leitores, que pedem ideias sobre sua vida sexual, compartilham impressões e experiências, ou, claro, me convidam para um bate-papo no Messenger ou até para sair. Conversei com um monte de gente, mas nunca topei sair com um leitor, nem mesmo sexo virtual. Não me considero aberta a conhecer estranhos por meio do blog, é muita gente diferente, não consigo distinguir, nem me excitar com eles. Confesso que sempre me sinto atraída pelas gatinhas, aparecem umas lindas querendo me conhecer.

Conto tudo mesmo: minhas taras malucas, meus desejos mais sórdidos, até alguns complexos. Delicio-me vivendo todas as minhas fantasias e também relatando todas elas. Transformei minha vida em um reality show do sexo estampado em páginas virtuais. Eu mesma sou a editora, e dou a ordem que quiser. Até embaralho alguns fatos para proteger meus personagens, mas tudo que escrevo é real, é a minha vida. Quem me conhece, sabe.

São histórias que não têm nada de mais. Só sexo, como todo mundo faz. Esse é o meu espetáculo da realidade. Vivo o momento de me abrir totalmente, deixar derramar todo esse meu desejo e falar a verdade, não esconder nada. Sem tentar parecer bonitinha, bem-sucedida ou cool. Apenas ser.

Tenho um jeito próprio de encarar os relacionamentos. Vivemos, hoje, uma constante quebra de valores. O mercado fala mais alto, cidadãos são meros consumidores: são aquilo que consomem. Na internet, encontrei um bom exemplo da liquidez dos relacionamentos: uma tara insaciável de sexo virtual. Ao mesmo tempo que vivo, em São Paulo, a intensidade e rapidez dos acontecimentos e até das relações. As pessoas têm dificuldade de se envolver. E eu não consigo controlar minha libido e acho que às vezes me envolvo demais. Já sou mulher, mas me sinto uma garota espoleta. Adoro bagunçar e viver e falar de sexo. Minha pretensão não é passar o resto da vida relatando minhas trepadas, mas estou curtindo o momento.