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Lava Jato fracassou no combate à corrupção e criou algo parecido com uma seita. Por Joaquim de Carvalho.

Procuradores fazendo a obra das 10 medidas: como os 10 mandamentos.

Uma leitura da postagem mais recente do procurador Carlos Fernando dos Santos Lima dá a exata medida do tipo de seguidor que a chamada República de Curitiba criou, com a Operação Lava Jato.

São pessoas que parecem sinceras na crença de que os procuradores de Curitiba estavam passando o Brasil a limpo e não, como está evidente, encetando uma perseguição que resultou na queda de um governo democraticamente eleito.

Agora que o serviço está feito, foram descartados, e a Lava Jato desfeita como força tarefa, como explicou o delegado Igor Romário de Paula, coordenador da Lava Jato e um militante antipetista nas redes sociais, um revoltado online.

São manifestações que parecem extraídas de uma seita. Um seguidor escreveu, em letras maiúsculas: “NÃO DESISTAM… PELO AMOR DE DEUS…”

Em outro comentário, ele postou um versículo bíblico:

“Exorto, pois, antes de tudo que se façam súplicas, orações, intercessões, e ações de graças por todos os homens, pelos reis, e por todos os que exercem autoridade, para que tenham uma vida tranquila e sossegada, em toda piedade e honestidade”(1 Timóteo 2:1-6).

Uma seguidora acrescentou: “Mateus 5”.

Este mesmo seguidor saiu na defesa enfática do procurador, quando uma voz dissonante perguntou a Carlos Fernando o que ele está fazendo em Berlim, na Alemanha, onde fez a postagem:

“Passeando em Berlim? Quem esta pagando? Enquanto isso quem esta trabalhando na lava jato? Menos holofotes e mais provas.”

Contrariado, o seguidor fez questão de responder:

“Sai fora, invejoso… Ele não trabalha de graça, gasta o dinheiro do jeito que quiser. Tenho uma preguiça de gente que vive às custas dos outros, e quer generalizar.”

A mulher que citou Mateus 5 entrou na conversa:

“Está de férias…. 3 anos… Menos, amigo, menos…. Quem paga é ele mesmo.”

“Estamos orando por você, Carlos…”, garantiu outro internauta.

Alguns perguntaram se havia algum grupo organizando manifestação.

E outros pregaram a necessidade de uma revolta armada:

“Resta somente, e infelizmente, o poder armado para frear essa organização criminosa. Não vejo outra opção, infelizmente. O povo virou refém dessa quadrilha.”

Assim disse o profeta…

Quando veio ao mundo, nos seus primeiros movimentos, a Operação  Lava Jato parecia mesmo a resposta a uma inquietação da sociedade brasileira: conhecer as entranhas de um sistema político corrupto.

Mas, à medida que avançou, ficou claro que a chamada República de Curitiba tinha um objetivo definido: destruir o PT e influir no jogo eleitoral.

A corrupção era pretexto.

As descobertas referentes a adversários políticos do PT foram ignoradas, ao mesmo tempo em que se criava a imagem de que Lula era o chefe da quadrilha e precisava ser preso.

A República de Curitiba entregou a parte da sociedade brasileira não o combate efetivo à corrupção, mas argumentos para o discurso de ódio.

Quando saiu do controle do juiz Sérgio Moro e dos procuradores de Curitiba, a Lava Jato chegou ao coração do sistema corrupto e encontrou aqueles que conspiraram para derrubar a presidente Dilma Rousseff.

Os seguidores dos procuradores de Curitiba acham que o fim da Lava Jato é obra exclusiva de Michel Temer e seus cúmplices.

Não é.

A decisão foi compartilhada.

O delegado Igor de Paula, que anunciou o fim da operação que ele coordenava, é um braço operacional de Sérgio Moro há muito tempo.

Quando as primeiras investigações relacionadas ao tema tiveram início, meados da década passada, eles já trabalhavam juntos.

Igor pedia autorização para grampear empresas e até advogados, e Moro deferia tudo, às vezes contrariado até o Ministério Público Federal, numa época em que Deltan Dallagnol ainda não estava lá.

Eles não dizem, mas certamente acham que, destruindo o ninho, matam a serpente.

Agora é tarde.

A Lava Jato já feriu Temer e Aécio.

Rodrigo Maia, o Botafogo, não está livre.

E tudo isso estava fora do roteiro.

O que sobrou em Curitiba é um pequeno grupo de procuradores que parecem acreditar que estavam mesmo em um trabalho messiânico e que continuam alimentando seus seguidores.

 

Joaquim de Carvalho

Jornalista, com passagem pela Veja, Jornal Nacional, entre outros. joaquimgilfilho@gmail.com

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