Lava Jato quis pressionar STF comparando casos de Genoino e Dirceu ao do goleiro Bruno

Atualizado em 15 de abril de 2021 às 21:32
Procuradores da Lava Jato de Curitiba

Diálogos apreendidos pela Polícia Federal na operação Spoofing mostram que, em 2018, os procuradores da Lava Jato de Curitiba queriam comparar os casos de José Dirceu, ex-ministro-chefe da Casa Civil, e do ex-presidente do PT José Genoino, ao do goleiro Bruno, que foi condenado em 2013 pelo assassinato da namorada, Eliza Samúdio.

O Ministério Público Federal (MPF) havia pedido a condenação de Dirceu e Genoino por corrupção ativa, mas os procuradores temiam que o STF revogaria a prisão dos petistas.

O então chefe da força-tarefa, Deltan Dallagnol, enviou uma mensagem afirmando que o Supremo estava “preparando terreno para soltar geral”, e por isso seria necessária uma “reação”.

“Se os ministros ficarem confortáveis, logo soltarão os peixes grandes”, alertou.

Foi aí que Deltan citou a sugestão do procurador Athayde Ribeiro, dizendo que ele “trouxe a ideia de comparar com o caso Bruno: quem matou mais?”.

Athayde logo responde: “Bruno cometeu um só crime. Esses aí vários, inclusive quando estavam sendo julgados pelo próprio STF. Genu [Genoino] e Dirceu.”

Ele ainda acrescenta: “Aquela ideia de que a corrupção mata mais…”

Mesmo após questionar se “não seria afrontar demais o Supremo”, o procurador defende que era preciso “tomar um posicionamento a respeito”.

“Creio que comparar ao Bruno é fácil. O Genu e o Bunlai [o pecuarista José Carlos Bumlai] estavam esperando para serem soltos, pois as acusações são pontuais e sobre fatos antigos”, afirma Athayde.

“Se queremos manter presos, temos que fazer diversas denúncias. De qualquer modo, temos que nos manifestar, pois ao que parece o Toffoli está preparando a soltura do Dirceu”, conclui.

Em 2013, num caso que ganhou repercussão nacional, o goleiro Bruno Fernandes de Souza, que jogava no Flamengo, foi condenado a 22 anos e três meses de prisão pelo assassinato e ocultação do cadáver de sua esposa Eliza Samúdio, e também pelo sequestro e cárcere privado do filho Bruninho.

O corpo de Eliza nunca foi encontrado.

A fixação da Lava Jato por prender petistas era tão grande que os procuradores estavam dispostos a comparar um crime de lavagem de dinheiro a um assassinato a sangue frio, pressionando o STF com esta analogia absurda.

Em 26 de junho de 2018, Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski determinaram a soltura de José Dirceu, após ele passar um mês preso no Complexo Penitenciário da Papuda.

Genoino foi inocentado pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) em agosto de 2020, quinze anos após o início do processo.