“Lavo a alma de muita gente”: o Barbudinho trolador da Globo fala ao DCM. Por Pedro Zambarda

Atualizado em 19 de maio de 2016 às 19:44
barbudinho
O Barbudinho em ação

 

Estudante de marketing de 24 anos, Luiz Henrique Oliveira é conhecido nas redes sociais como “o Barbudinho”. Ele tem mais de 47 mil fãs no Facebook e é militante de esquerda desde os 17.

Nasceu em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, mas está em Brasília. Fã declarado do ex-presidente Lula, ficou transtornado com a condução coercitiva no dia 4 de março e decidiu se manifestar diante das câmeras da Globonews daquele dia. Ergueu a placa com os dizeres “Mansão dos Marinho Paraty” e sussurrou ao lado da repórter: “Globo golpista”.

Desde então, não parou e chegou a aparecer até no SBT em 4 de maio, com um novo cartaz. “Cunha e Globo mandam no Temer”. Sua ação passou a inspirar pessoas a protestarem contra o golpe feito contra a presidente Dilma da mesma maneira.

O DCM falou com o Barbudinho.

Por que essa revolta com a TV Globo?

Eu quero que as pessoas saibam que a mídia esconde muita coisa e que a Globo sempre tentou interferir nos processos eleitorais do Brasil. A emissora apoiou a ditadura militar, foi o principal instrumento do golpe que derrubou Jango, e tentaram também manipular as eleições de 82 para impedir a posse de Brizola como governador.

A Globo manipulou o debate entre Lula e Collor nas eleições presidenciais de 89 e sempre abafou os casos de corrupção do governo FHC e dos governos do PSDB até hoje. Eles são um partido político disfarçado de empresa jornalística.

As pessoas que assistem TV precisam saber disso.

Que pessoas?

Globo detém a maior audiência em horários nobres da televisão aberta. A capacidade de alienar seu público é inenarrável. Dá para contar nos dedos às vezes em que a palavra “ditadura” foi dita nesse partido político disfarçado de empresa jornalística.

As pessoas são ignorantes graças a ela, são manipuláveis e têm a capacidade de consentir com quais quer que sejam as informações repassadas pela emissora. Perdem a capacidade de se questionar sobre a existência de outro ponto de vista.

Há décadas os brasileiros são manipulados e não percebem, ou percebem e fingem não perceber. A Globo não é somente um veículo de comunicação famoso por suas novelas ou atrações idiotas que chamam atenção.

O público, sem opção, acaba aderindo à sua grade de programação. “A verdade é dura, a rede Globo apoiou a ditadura” vêm sido esbravejado pela esquerda brasileira e movimentos populares nos atos contra o golpe e contra o governo ilegítimo de Temer, mas parece que esta forte expressão não está no entendimento das famílias brasileiras. Aquelas que acompanham a emissora.

Editoriais em apoio à ditadura no Brasil estavam estampados nos jornais do grupo Globo. Depois das manifestações de junho, quando estas informações vieram à tona novamente, a emissora, encurralada, precisou prestar esclarecimentos e admitiu em público que este apoio foi um erro grave.

A ditadura militar deixou uma cicatriz imensa na história do Brasil e a Globo foi o instrumento que a sustentou. Essa cicatriz jamais será curada, mas, com o passar dos tempos, esse assunto vem sendo menos discutido no cotidiano dos brasileiros e pouco explorado na sala de aula. Isso acontece ao mesmo tempo em que são poucos os alunos que se interessam pelo tema.

Jornalistas da Globo te hostilizaram depois que você mostrou suas placas?

Não. Eles foram tranquilos, uma vez que me manifestei de forma pacífica. Não dei nenhum motivo para que fizessem algo contra mim.

No entanto, nas redes sociais, eu recebi sim algumas ameaças e ofensas de pessoas que compactuam com a política de manipulação da emissora. Eles gostam do que a Globo é.

Mas nós não daremos sossego para eles. A parcialidade e a seletividade promovida pela emissora conseguiram levar adiante o golpe jurídico, parlamentar e institucional no Brasil. Isso emplacou o governo ilegítimo de Temer, com a ajuda das arbitrariedades de Eduardo Cunha.

Em uma de nossas intervenções recentes, deixamos claro nosso posicionamento em relação a submissão de Temer a Cunha e a Rede Globo.

Você acha que a TV Globo não tem concorrentes?

A TV Globo precisa de mais concorrentes e a internet tem diminuído o poder da televisão como mídia quase exclusiva. Mas boa parte da formação da opinião passa por lá, o que pauta inclusive aquilo que é discutido na internet.

Eles representam quase um monopólio e é preciso diversificar a oferta de comunicação. Não é democrático que uma empresa concentre tanto poder. A nossa Constituição proíbe oligopólios de mídia, mas isso nunca foi regulamentado. O Código Brasileiro de Comunicação é de 1962, e é da época da TV preto e branco!

A Campanha Lei da Mídia Democrática quer mudar isso, mas o governo federal, com o critério de mídia técnica, também contribui para a concentração de poder da Globo. A quantidade de propaganda distribuída para TVs é exagerada, e isso míngua o patrocínio de espaços menores de informação e opinião.

Nossa postura de enfrentamento ao golpismo promovido pela Rede Globo seguirá. Uma onda de combate ao mau jornalismo foi criada, onde várias pessoas também aderiram à campanha, entrando em transmissões ao vivo para constranger a Globo e suas afiliadas.

Esperamos que esta forma pacífica de manifestação se prolifere e esta maneira ousada de mostrar a podridão que existe na TV Globo. Isso precisa chamar atenção do povo preguiçoso que discute política se baseando em mentiras e contradições.

Como você soube da Paraty House, conhecida como “triplex dos Marinhos”? 

Soube por conta do trabalho colaborativo que vem sendo realizado pelos blogueiros, jornalistas independentes e pela mídia alternativa, incluindo o DCM. Na Globo jamais veremos uma citação sobre a mansão.

A primeira e talvez a ultima vez que o triplex foi transmitido na telinha do plim plim, foi quando usei em minha primeira manifestação a placa “#MansãoDosMarinhoParaty”.

Como você decidiu fazer este protesto?

Eu decidi depois de presenciar a cobertura covarde em relação à condução coercitiva do ex-presidente Lula. Minha reação foi de indignação ao circo midiático promovido pela Rede Globo.

O que você acha da grande mídia?

É evidente a forma tendenciosa da qual eles tratam assuntos que correspondem ao governo.  Políticos de outros partidos não são tratados pela Globo com a mesma intensidade que tratam as lideranças dos Movimentos Sociais e do Partido dos Trabalhadores.

Aécio, por exemplo, já foi citado por cinco delatores da Lava Jato e a grande mídia vem abafando essas denúncias, até de outros escândalos.

O que você achou dos memes na internet a respeito dos seus protestos? 

Os memes de humor tornaram a minha manifestação conhecida nacionalmente. Levei na brincadeira e me diverti com muitos deles. O que mais gostei foi um feito pela torcida do Grêmio, em que colocaram na placa o nome dos cinco jogadores no penúltimo Grenal, incluindo o da equipe adversária que marcou gol contra. Eram gols de um clássico gaúcho vencido pela equipe por cinco a zero.

Eu sou gremista e acho que eles não sabiam disso até ler esta matéria. No domingo seguinte à minha manifestação aconteceu mais um jogo do clássico. A imagem acabou se tornando o meme do jogo.

Aproveitando, me conte um pouco sobre a tua história?

Sou estudante de marketing e concluo a formação no final deste ano. Milito na esquerda desde meus 17 anos e fui presidente de três grêmios estudantis de três escolas estaduais distintas.

Também presidi um Diretório Central de Estudantes quando cursava Administração em uma faculdade na minha cidade natal, em Santa Maria. Milito também no Movimento Estudantil através do “Movimento Mudança” da qual fui seu delegado nos últimos dois congressos da UNE.

Estou em Brasília há um ano, mas viajo a Santa Maria, lá no Rio Grande do Sul, pelo menos uma vez a cada três meses.

Você fará novas manifestações contra a Globo?

O que eu fiz foi o desejo de muitas pessoas. Tenho certeza que lavei a alma de muita gente. Vou seguir sendo um militante contra a seletividade e parcialidade da grande mídia.