Leão XIV retoma legado de Francisco e se reunirá com MST no Vaticano

Atualizado em 5 de outubro de 2025 às 9:41
O Papa Leão XIV. Foto: Alberto Pizzoli/ AFP

Entre os dias 20 e 27 de outubro, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) participará de um encontro com o Papa Leão XIV, no Vaticano. O evento reunirá movimentos populares de diferentes países, em uma iniciativa voltada ao diálogo global sobre justiça social e solidariedade, conforme informação publicada pelo portal Brasil de Fato.

O encontro é visto como um marco na continuidade da aproximação entre a Igreja Católica e organizações sociais, tradição fortalecida durante o pontificado de Francisco, encerrado em 2025. O atual papa, Leão XIV, sucede o religioso argentino, reconhecido por ter aberto espaço inédito a movimentos populares em sua gestão iniciada em 2013.

O líder do MST João Paulo Stédile encontra o Papa Francisco no Vaticano. Foto: Reprodução/ VaticanNews

Leão XIV, primeiro papa nascido nos Estados Unidos, viveu por anos no Peru, país onde obteve cidadania e se destacou pela defesa das comunidades rurais e indígenas. Durante sua permanência no país, criticou o governo de Alberto Fujimori e consolidou uma atuação pastoral voltada aos mais pobres. Ele foi eleito sumo pontífice em maio de 2025, logo após a morte de Francisco, ocorrida pouco depois da Páscoa.

A presença do MST no Vaticano reforça o vínculo histórico do movimento com o papado recente. Em 2024, o então líder católico, Papa Francisco, abençoou a bandeira do MST durante a cerimônia “Arena da Paz”, em Verona, na Itália. O ato reuniu cerca de 12 mil pessoas e contou com a presença de João Pedro Stedile, dirigente nacional do movimento.

Na ocasião, Stedile pediu a bênção da bandeira, destacando as dificuldades vividas pelas famílias atingidas pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Segundo relatou, Francisco expressou solidariedade e afirmou estar rezando pela recuperação das comunidades afetadas. As imagens da cerimônia foram divulgadas pelo Vatican News, canal oficial de comunicação do Vaticano.

Durante o evento, Stedile também discursou sobre as lutas e esperanças do povo sem-terra, encerrando sua fala com versos de Dom Pedro Casaldáliga. O trecho ressaltava a resistência e o ideal coletivo do movimento: “Malditas sejam todas as cercas; malditas todas as propriedades privadas que nos impedem de viver e amar”.

A relação entre o MST e o Vaticano vem se consolidando desde antes desse encontro. Em 2020, durante a pandemia de Covid-19, o Papa Francisco enviou uma carta aos movimentos populares agradecendo o apoio na distribuição de alimentos aos mais vulneráveis, entre eles a contribuição do MST no Brasil.

Agora, sob o papado de Leão XIV, a expectativa é de que o diálogo com os movimentos sociais continue, mantendo viva a agenda de inclusão e justiça social que marcou o pontificado anterior. O encontro de outubro deverá simbolizar essa transição de valores dentro da Igreja, reforçando o papel das causas populares na pauta global do Vaticano.

Lindiane Seno
Lindiane é advogada, redatora e produtora de lives no DCM TV.