No último dia 30 de abril ocorreu o leilão de quatro lotes da Cedae, a companhia de água do Rio de Janeiro.
Dos quatro lotes leiloados, 3 foram arrematados e um deles, exatamente o mais barato, não.
Não houve nenhuma empresa disposta a oferecer um lance para adquirir esse lote, que engloba seis municípios e a Zona Oeste do Rio de Janeiro:
A Zona Oeste do Rio engloba bairros como Bangu, Santa Cruz, Barra da Tijuca, entre outros:
Trata-se de uma região com forte atuação das milícias. A “Liga da Justiça”, uma das mais bem estruturadas e maiores milícias com atuação no Rio de Janeiro nasceu nessa região, por exemplo.
As milícias têm como modus operandi concentrar, de forma clandestina, o fornecimento de serviços básicos à população das áreas onde se situa: luz, internet, TV a cabo e, quando possível, água. Há registros de desvio de água para lotes irregulares, tal como ocorreu no Condomínio Bosque Pedra da Boiúna.
Agora liguemos os pontos: por qual razão exatamente a Zona Oeste do Rio não despertou o interesse das concorrentes nessa licitação?
Questionado sobre a possibilidade dos investidores sentirem-se desincentivados ante a presença de milícias na região, o diretor de Infraestrutura, Concessões e PPPs do BNDES, Fábio Abrahão, desconversou, afirmando que existiu sim uma proposta, mas como pertencia ao grupo Aegea, que já havia vencido dois lotes do leilão, ela foi retirada.
Outra explicação oficial é que para essa região apenas licitava-se o fornecimento de água e não o serviço de esgotos, como nos demais.
O leilão da Cedae foi amplamente divulgado e comemorado nas hostes neoliberais e pela imprensa tradicional.
Agora cabe a reflexão: quantas vezes a esquerda já não ouviu liberais falando sobre o “Estado malvadão”, que com seus tentáculos maléficos tolhe a liberdade de iniciativa dos heroicos empreendedores ?
Mas quantas vezes já ouvimos esses mesmos neoliberais criticando as milícias?
A milícia mexe em interesses de gigantes de vários mercados diferentes: fornecimento de energia elétrica, água, TV a cabo, gás e jamais vemos esses mesmos liberais pregando pela extinção das milícias ou pelo seu combates.
Quando lembramos da parceria entre Jair Bolsonaro e Paulo Guedes, talvez tenhamos tenhamos o começo da resposta.