Lenio Streck: projeto de anistia favorece o PCC e futuros golpes

Atualizado em 5 de setembro de 2025 às 11:57
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Foto: Reprodução

O jurista Lenio Streck usou as redes sociais nesta sexta-feira (5) para comentar o projeto de anistia elaborado pelo líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), que beneficia Jair Bolsonaro. O texto, que para o jurista é uma “confissão de golpismo”, favorece o Primeiro Comando da Capital (PCC) e futuros golpes:

PROJETO DE ANISTIA: UMA CONFISSÃO DE GOLPISMO – A PERDA DE PUDOR – FALTOU A ANISTIA AO PCC E A UM FUTURO GOLPE!!! Circula o projeto. Diz entre outras coisas:

Art. 1, caput – concede anistia até mesmo para fatos que não estão sendo investigados. É uma espécie de anistia para o futuro;

Art. 1, inciso I – perdoa qualquer tipo de ataque às instituições e ao processo eleitoral. Ou seja: institucionaliza o ataque à democracia.

Art.1, inciso II – anistia todas as pessoas acusadas, condenadas ou ainda nem mesmo investigadas por crimes contra o Estado Democrático de Direito. Anistia até o Eduardo Bolsonaro. Também anistia financiadores, apoiadores e aos depredadores do 8 de janeiro.

Art. 1, inciso IV – A alínea a tem por objetivo encerrar todos os inquéritos do STF que sejam oriundos do IP dos ataques à corte (conhecido como IP das fake news). Existe uma série de investigações conexas que poderiam ser derrubadas.

Art. 1, §2º, I e II – livra Braga Neto da prisão preventiva.

Art. 1, §2º, I e II – devolve elegibilidade a Bolsonaro.

Art. 1, §3º – e, é claro, anistia para todos os golpistas em geral.

O QUE FALTOU NO PROJETO: anistiar o PCC!!!!!

O QUER FALTOU MAIS? Um artigo anistiando previamente UM FUTURO GOLPE!!!!

A proposta de Sóstenes Cavalcante

Após a primeira semana do julgamento de Bolsonaro e de seus aliados no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado, a oposição no Congresso Nacional passou a articular uma proposta de anistia ampla. A mais abrangente delas é a de Sóstenes Cavalcante.

A minuta apresentada pelo bolsonarista prevê perdão para condutas praticadas entre 14 de março de 2019 e a data em que a lei entrar em vigor. Nesse intervalo, estariam incluídos atos verbais ou escritos considerados ofensivos a instituições, ataques ao processo eleitoral, incitação à animosidade social e manifestações ligadas à polarização política.

O texto também abrange crimes previstos no Código Penal, como danos ao patrimônio público, incitação ao crime, organização criminosa e apologia a criminosos. Além disso, extinguiria investigações, processos e condenações relacionadas à desinformação eleitoral, apoio logístico ou financeiro a manifestações, protestos em frente a quartéis e os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, em Brasília.

Trecho do texto apresentado por Sóstenes Cavalcante. Foto: Reprodução

Se aprovado, o projeto teria efeitos amplos: cancelamento de penas, arquivamento de processos, afastamento de multas, extinção de restrições de direitos e suspensão de inelegibilidades impostas pela Justiça Eleitoral. O alcance também incluiria ilícitos civis, administrativos e eleitorais, além de crimes políticos e conexos.

No entanto, a proposta enfrenta resistência no Senado. O presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP), já deixou claro que apoia apenas a revisão das penas aplicadas aos condenados do 8 de Janeiro, sem estender o benefício a Bolsonaro e seus aliados.

Chacota

O projeto de anistia irrestrita do bolsonarismo também virou motivo de chacota na GloboNews. Jornalistas chegaram a questionar se alguém no Congresso teria “exagerado na inspiração” ao redigir um texto que, na prática, abre caminho inclusive para a anistia do crime organizado no país.