Ler livros no papel ou no iPad?
Coloquei outro dia esta questão no Facebook, e despertou um debate revelador.
Minha sobrinha Júlia, de 23 anos, imadiatamente respondeu: iPad. E argumentou que é uma leitura ecologicamente mais “sustentável”.
Árvores não são derrubadas para a produção de papel.
Minha amiga Marília, que marcou época no RH da Abril com seu bom senso competente e suave, retrucou, enfática: “Livro sempre!”
Assim, com exclamação.
Quanto a mim, fico mais perto de Júlia do que de Marília nesta questão – a despeito de meu enorme apego a livros tal como os conheci.
As vantagens do livro no iPad – ou mesmo no celular, onle leio Os Possessos com facilidade e deleite – são muito grandes para serem ignoradas no correr dos dias.
Vim lendo Le Carré em inglês no avião que me devolveu a Londres. O último dele, “Our Kind of Traitor”. Le Carré é um escritor sofisticado. Um dos maiores romancistas vivos, certamente. Ninguém descreveu o mundo da espionagem na Guerra Fria como ele.
As palavras que não entendo, que faço com elas? Pulo e pego o sentido. No iPad, posso com os dedos destacá-las e ver seu significado no dicionário. Um link me transporta para o Google ou para a Wikipedia, se necessário para a compreensão de alguma passagem. A volta ao livro acontece com um simples clique.
Não vou falar na facilidade que é adquirir livros em sua cama ou poltrona também com um simples clique, porque visitar livrarias é um imenso prazer, você tomado por aquele mar de letras e capas.
Mas destaco outras virtudes laterais. A luz da tela dispensa abajur, por exemplo. Muitos casamentos podem ser poupados assim.
No avião, ontem. Na madrugada, para ler eu teria que acender uma luz que, todos sabemos, é individual sem ser individual. Ela parece ir direto para o rosto de seus vizinhos.
O iPad os poupou. Quer dizer, me evitou o dilema: leio ou, para ser um bom camarada, medito ou conto carneirinhos na escuridão transatlântica do avião?
Não dá para competir.
O futuro da leitura está no iPad ou aparelhos similares, apesar da paixão pelo papel que move minha amiga Marília e tantas, tantas pessoas, entre as quais eu.