Levantamento aponta mudanças no apoio e na rejeição ao PT em municípios brasileiros desde 2002

A marca da sigla foi mais impactante em cidades mais pobres, e especialistas acreditam que as eleições deste ano mostrarão a quem o eleitorado mais pobre é realmente fiel

Atualizado em 18 de julho de 2022 às 13:52
Levantamento aponta mudanças no apoio e na rejeição ao PT em municípios brasileiros desde 2002 Imagem: Reprodução.

Um levantamento realizando pelo O Globo aponta os municípios que mais apoiaram ou rejeitaram o PT desde 2002, e as mudanças que esse índice eleitoral de adesão ao partido sofreu ao longo dos anos. Nos últimos 20 anos, uma distância de 3,6 mil quilômetros separa a cidade brasileira mais fiel ao PT daquela que menos simpatiza com os candidatos da sigla.

A pesquisa baseia-se no critério inicial de que o partido esteve como protagonista de todas as disputas presidenciais nas últimas duas décadas. Mais de 5,5 mil municípios do país foram analisados, desde os votos em primeiro turno em relação aos principais concorrentes à presidência ao longo dos anos.

Um levantamento como esse pode indicar, principalmente em uma eleição polarizada como a deste ano, em quais pontos do mapa o partido do líder das pesquisas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), encontrará maior ou menor facilidade.

Como o município mais resistente à legenda, está Nova Pádua, na Serra Gaúcha, com uma população estimada em 2.563 pessoas, com apenas 73 vivendo em situação de pobreza ou extrema pobreza, segundo dados do governo federal.

Em contrapartida, está Belágua, no Maranhão, que tem uma população de 7,5 mil habitantes, como estima o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Entretanto, esse dado não alcança o número de 8,1 mil pobres ou miseráveis que estão registrados no Cadastro Único pela localidade, algo estranho mas que pode ser explicado por ser um município marcado fortemente pela pobreza.

A marca do PT foi particularmente mais impactante em cidades mais pobres.

Os extremos do índice mostram a relação entre o desempenho eleitoral e a pobreza: a cidade gaúcha atingiu zero na escala de fidelidade à sigla, enquanto Belágua chegou a cem.

Especialistas que já se aprofundaram no tema afirmam que, desde 2006, reta final do primeiro mandato de Lula, o partido ganhou espaço nos locais com menores índices de desenvolvimento, que consequentemente foram mais afetados por programas sociais, como o Bolsa Família.

Existem casos em que os índices praticamente não mudaram, como em Roncador, no Paraná, em que a votação no PT se manteve estável nos últimos cinco pleitos, variando entre 46% e 50% dos votos, menor flexibilidade do país.

Já em Guaribas, no Piauí, há o melhor reflexo do realimento político no Brasil. Em 2002, a cidade nordestina elegeu Lula com apenas 18% de votos, mas os programas sociais mudaram o universo dos votos e, em 2018, 93% dos eleitores votaram em Fernando Haddad (PT) já no primeiro turno.

Em Cocal do Sul, no estado de Santa Catarina, houve o efeito contrário. Em 2002, eles elegeram o candidato petista com 74,9% dos votos, mas em 2018, Haddad recebeu apenas 8%.

César Zucco, professor da Fundação Getúlio Vargas e pesquisador do Woodrow Wilson Center, que já estudou o impacto do Programa Bolsa Família no comportamento eleitoral, acredita que as eleições deste ano ajudarão a esclarecer a quem o eleitorado mais pobre é realmente fiel, já que os eleitores com maiores benefícios sociais estão vinculados ao outro candidato, o presidente Jair Bolsonaro (PL).

De início, o PT tinha mais votos em lugares com maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), mas quando conquistou o governo em 2002, passou a ter mais votos de lugares com menor IDH, como comenta Zucco.

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