
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, afirmou nesta terça (7) que a Polícia Federal investiga se o metanol usado na falsificação de bebidas alcoólicas pode ter sido retirado de caminhões e tanques abandonados após uma grande operação contra o crime organizado.
“Todos sabem que recentemente tivemos enorme ação de combate à infiltração de crime organizado na área de combustíveis. Muitos caminhões e tanques de metanol foram abandonados depois da operação. Essa é uma hipótese que está sendo estudada, trilhada, acalentada pela PF”, disse o ministro.
Lewandowski disse que as investigações ainda estão em estágio inicial e que não há indícios concretos sobre o envolvimento de facções conhecidas, como o PCC. “Se esta é uma origem do metanol que está adulterando as bebidas, então a atuação repressiva será numa direção. Se tiver origem a partir de produtos agrícolas, a repressão terá outros alvos”, prosseguiu.
O ministro destacou que todas as hipóteses seguem em análise pela Polícia Federal. Na véspera, o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, havia descartado qualquer ligação entre os casos de intoxicação e o crime organizado.
Segundo ele, a principal linha de investigação da polícia paulista aponta para o uso de etanol de baixa qualidade na produção clandestina de bebidas, e não para o reaproveitamento de metanol de origem industrial.

Lewandowski, no entanto, reforçou que o envolvimento de grupos criminosos segue no radar federal. “Não podemos avançar em nenhuma conclusão. Quando falamos em crime organizado, não estamos nos referindo necessariamente àquelas conhecidas facções, que têm siglas às quais não gosto de me referir. Pode ser que haja organização criminosa especializada em distribuir metanol para adulterar bebidas”, afirmou.
O Ministério da Justiça informou que já notificou 15 estabelecimentos e deve acionar outros 15 para esclarecer a origem das bebidas vendidas. Após reunião com representantes do setor, Lewandowski anunciou a criação de um comitê informal para enfrentar a crise.
“Existe o folclore de que quando não se quer resolver o problema, cria-se uma comissão, mas não é disso que se trata”, disse. O governo pretende centralizar em um site todas as ações conjuntas com o setor privado para conter a crise.
Participaram da reunião representantes da Abrabe (Associação Brasileira de Bebidas), ABBD (Associação Brasileira de Bebidas Destiladas), CNI (Confederação Nacional da Indústria), FNCP (Fórum Nacional contra a Pirataria e Ilegalidade) e ABCF (Associação Brasileira de Combate à Falsificação).
O Ministério da Saúde confirmou 17 casos de intoxicação por metanol no país, com duas mortes em São Paulo e 12 óbitos em análise. O total de casos suspeitos caiu para 158, após o descarte de 38 notificações, e autoridades de saúde recomendam evitar o consumo de bebidas destiladas sem procedência conhecida.