Líder bolsominion está arrependido: “Já me não me identifico mais com a direita”. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 12 de janeiro de 2020 às 21:29

 

Tuiuti. Foto: Mídia Ninja.

Desde 2013, quando começaram as primeiras manifestações contra Dilma Rousseff, ele estava nas ruas. Vestiu camiseta amarela da seleção, estendeu faixas e até fez discurso em alguns atos.

Em 2018, fez campanha para Jair Bolsonaro.

Mas, desde que criticou Flávio Bolsonaro por causa das rachadinhas, caiu em desgraça junto aos antigos aliados e passou a ser chamado de isentão ou de integrante da “Nova Esquerda”, como as milícias digitais bolsonaristas chamam os que divergem.

Essa pessoa, que ainda não quer ter seu nome identificado, nunca ocupou cargo público, mas é conhecido como ativista. Deu entrevista em televisão e jornais para defender o que acreditava ser melhor para o Brasil: a queda de Dilma, a condenação e prisão de Lula e, claro, a eleição de Bolsonaro.

“Eu já revi meus conceitos em muito coisas, viu? Revi muita coisa. Já não penso igual pensava antigamente”, disse essa pessoa, apresentada por um amigo comum. Esta foi a primeira manifestação de descontentamento dele dirigida a mim.

Hoje, depois que o jornal Metrópole publicou a reportagem sobre a “Nova Esquerda”, ele voltou a me procurar. “Uma loucura. Percebi que os extremos não são bons. Tanto vindo da esquerda ou da tal direita, com que já não me identifico mais”, afirmou.

Um pouco mais de conversa, e me contou o que o fez abrir os olhos.

“Vi enfermeira de hospital famoso comemorando a morte de uma moça que tomou um  tiro na nuca num assalto, só porque a moça dizia que votaria no capeta e não no Bolsonaro. Isso é preocupante demais. Fico pensando uma pessoa dessas tomando conta de alguém numa UTI. Se o paciente for de outra ideologia que não a dela, vai desligar os aparelhos?”

Ele, que ainda mantém na sua rede social fotos em manifestações na Paulista com camisa da CBF, diz que foi atacado quando cobrou de Bolsonaro posição firme sobre as evidências de corrupção que atinge o filho Flávio e ele próprio, na medida em que a esposa recebeu depósito do chefe miliciano Fabrício Queiroz.

“Você acredita que os fanáticos me colocaram no rol dos ‘inimigos’ isentões? Assassinaram minha reputação nas redes. Me atacaram de forma mais canalha que você possa imaginar. Mas eles vivem numa bolha. Doentia por sinal”, desabafou.

Essa pessoa teve relevância na ascensão da extrema direita e estou conversando com essa fonte para autorizar a divulgação do nome e dê detalhes sobre como foi atraído para a farsa que tomou conta do país desde 2013. Ele ainda hesita. É compreensível.

A referência a essa conversa é necessária porque não se trata de um caso isolado. O que as estatísticas mostram, uma acentuada queda de popularidade de Bolsonaro, ganham contornos humanos. Há uma massa de eleitores que ainda não decidiu a que grupo cerrar fileiras, mas já sabe que não será com os bolsonaristas.

Acreditavam que viviam um sonho, achavam que estavam trabalhando pelo melhor para o Brasil, descobriram que era um pesadelo. Agora acordaram, estão ainda sonolentos e não sabem para onde vão. Os democratas devem incluí-los em seus diálogos, em seus discursos, em suas ações, em vez de satanizá-los.

Estão, evidentemente, arrependidos.