Líderes do CV de MT pagam R$ 80 mil por mês para se esconder em favelas do Rio

Atualizado em 10 de novembro de 2025 às 17:49
Homens apontados como membros do Comando Vermelho presos em operação da polícia no Rio de Janeiro. Foto: Mauro Pimentel/AFP

Investigações do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) apontam que ao menos 15 integrantes do Comando Vermelho de Mato Grosso estão escondidos em favelas do Rio de Janeiro, onde pagam até R$ 80 mil por mês para garantir abrigo e proteção. Segundo a Promotoria, parte desse valor é entregue em dinheiro e o restante em fuzis avaliados entre R$ 20 mil e R$ 30 mil.

Levantamentos mostram que, apenas em 2024, 16 armas de grosso calibre foram enviadas por membros da facção mato-grossense para comunidades como Rocinha, Vidigal, Penha e Complexo do Alemão. O promotor-chefe do Gaeco, Adriano Roberto Alves, afirma que a migração ocorre porque “lá [no Rio] é um território dominado, como a Faixa de Gaza – o Estado não tem soberania”.

Ele diz que criminosos buscam refúgio em regiões onde a entrada das forças de segurança é limitada. A Secretaria de Segurança do Rio respondeu que atua continuamente contra o avanço de facções e destacou ações recentes, como a Operação Contenção, que prendeu e neutralizou mais de 200 suspeitos.

O Comando Vermelho é hoje a maior facção em Mato Grosso, com cerca de 10 mil integrantes e movimentação mensal acima de 1 milhão de reais. O grupo surgiu na Penitenciária Central do Estado, em 2013, e passou a dominar o tráfico em cerca de 95% das cidades, com resistência apenas no Nortão, onde ainda há influência do PCC. Para o Gaeco, a relação com o Rio envolve troca de abrigo, armas e influência: “Eles mandam fuzis e drogas em troca de refúgio”.

Entre os foragidos, três são apontados como principais lideranças no estado. O primeiro é Jonas Souza Garcia Júnior, o Batman, condenado a 49 anos e considerado a maior liderança em liberdade. Beneficiado com regime semiaberto em setembro, rompeu a tornozeleira e fugiu dias depois. Ele é investigado por tráfico, extorsão, jogos de azar e teria fugido durante operação na casa do rapper Oruam, filho de Marcinho VP.

Armas e dinheiro apreendidos durante operação da Polícia Militar de Mato Grosso. Foto: Divulgação

Outra figura central é Angélica Silva Saraiva de Sá, a Angeliquinha, condenada a mais de 250 anos por homicídios e chefiar o CV no norte do estado. Ela teria ordenado a execução de quatro paranaenses ligados ao PCC.

Jéssica Leal da Silva, a Arlequina, líder em Juína, também está foragida. Acumulando dezenas de processos, é apontada como responsável por “tribunais do crime”. As duas fugiram juntas da Penitenciária Ana Maria do Couto após serrarem as grades.

O Gaeco acredita que ambas buscaram esconderijo no Rio. Para Adriano Roberto Alves, o maior problema está no sistema prisional frágil. “Prender é fácil. O difícil é impedir que continuem mandando de dentro da cadeia”, afirma. Ele também disse que nenhum dos 117 mortos na megaoperação recente do Rio tinha ligação com o CV de Mato Grosso. “Rafael de Moraes Silva apenas nasceu no estado. Ele não vivia aqui.”

As investigações indicam que, em outubro, os líderes voltaram a trocar de esconderijo, incluindo uma área conhecida como Fazendinha, próxima à Barra da Tijuca. Segundo o Gaeco, a mobilidade constante é parte da estratégia do grupo para manter o controle do tráfico em Mato Grosso mesmo à distância.

Caique Lima
Caique Lima, 27. Jornalista do DCM desde 2019 e amante de futebol.