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Lobista que denunciou Lista de Furnas e Aécio Neves vai para a prisão em Minas. Por Joaquim de Carvalho

Nílton Monteiro

O homem que denunciou a Lista de Furnas e o Mensalão de Minas Gerais, Nilton Monteiro, se apresentou hoje à polícia para cumprir pena de 6 anos, depois de uma condenação pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais em que o relator do processo foi um ex-procurador citado em um dos escândalos.

Nilton Monteiro foi levado para o Ceresp Gameleira pelo delegado Rodrigo de Bossi, chefe do Departamento de Investigação sobre Fraudes.

“Essa prisão é injusta, mas Nilton jamais cogitou não se apresentar. Só que tememos pela vida dele — sabe demais — e por isso a execução da pena já está sendo acompanhada pela Comissão de Direitos Humanos da OAB”, disse o advogado de Nilton, Bruni César.

Para se ter ideia de como o caso é estranho, basta saber que o relator do processo, José Mauro Catta Preta Leal, nomeado desembargador por Antonio Anastasia, aliado de Aécio, é uma das autoridades apontadas por Nilton Monteiro como envolvidas no caso do Mensalão mineiro.

Segundo a defesa de Nilton, Catta Preta Leal era procurador do Estado durante o governo de Eduardo Azeredo e chegou a ser chamado para depor no inquérito que apurou o Mensalão.

Catta Preta assinou o parecer que autorizou a transferência de recursos do Estado para a agência do publicitário Marcos Valério, recursos que seriam desviados para campanhas do PSDB no Estado.

Catta Preta não foi denunciado, mas o inquérito resultou na condenação do ex-governador Eduardo Azeredo, do PSDB, que hoje se encontra preso em uma quartel do Corpo de Bombeiros.

Na sentença que condenou Azeredo, Nilton é apontado como testemunha-chave.

No caso da Lista de Furnas, que envolve Aécio Neves, a denúncia da Procuradoria da República também se fundamenta nos documentos e nas declarações apresentadas por Nilton, que entregou a relação de políticos que receberam propina de fornecedores da estatal e assumiu sua participação no esquema.

Apesar disso, a condenação de Nilton é por outro caso.

Como operador do ex-deputado mineiro Sérgio Naya, já falecido, Nilton ficou com uma nota promissória assinada por um advogado no Rio que tinha negócios com ele.

Quando o advogado morreu, Nilton se habilitou no inventário para receber a dívida, mas os herdeiros o denunciaram por falsificação de documentos, crime que não pôde ser comprovado, já que a nota promissória original desapareceu do processo.

Mesmo assim, foi condenado.

Seu advogado já tinha entrado com habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça, para tentar evitar o julgamento pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais, sob o argumento de que Nilton é alvo de perseguição política.

Eis um trecho do pedido de habeas corpus, ainda não julgado pelo STJ:

Nilton Monteiro é um arquivo vivo sobre os malfeitos de um grupo de pessoas pertencentes ao PSDB. Esteve envolvido em interesses das campanhas tucanas de 1998 (reeleição do ex-governador do Estado de Minas Gerais Eduardo Brandão de Azeredo) e 2002 (ex-governador do Estado do Espírito Santo José Ignácio Ferreira).

Depois de desentendimentos com o tucanato, denunciou à Polícia Federal a conhecida Lista de Furnas, que diz respeito ao desvio de verbas (caixa 2 do PSDB das eleições de 2002) e uma outra lista atribuída a Marcos Valério, de 1998 (Mensalão Mineiro).

O paciente Nilton Monteiro passou a ser perseguido pelo tucanato de Minas Gerais desde o governo Aécio Neves.

Setores da polícia civil de Minas Gerais submeteu o paciente a um polêmico inquérito, não para investigar suas denúncias, mas para prendê-lo sem nenhuma condenação e desacreditá-lo, com características arbitrárias e de intimidação.

(…)

O paciente foi alvo de um incêndio criminoso em sua casa, que provocou explosões cinematográficas de carros, ameaçou a vida de nove pessoas de sua família, sendo que uma delas ficou quarenta e oito horas no CTI”.

Com a prisão de Nilton hoje, a situação consolidada é a seguinte: os políticos que aparecem na Lista de Furnas, entre eles Aécio, Geraldo Alckmin, Serra e Jair Bolsonaro, continuam soltos, mas o denunciante foi para trás das grades.

Joaquim de Carvalho

Jornalista, com passagem pela Veja, Jornal Nacional, entre outros. joaquimgilfilho@gmail.com

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