Locutor bolsonarista de Gusttavo Lima é garoto propaganda da Caixa e secretário de Barretos (SP)

Atualizado em 30 de maio de 2022 às 14:00
Cuiabano Lima e Jair Bolsonaro

O locutor de rodeios Andraus Araújo de Lima, mais conhecido como Cuiabano Lima, virou sensação entre apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) após realizar um discurso, durante show do cantor sertanejo Gusttavo Lima em Brasília, contra o “comunismo” e em defesa de “Deus, pátria e família”.

“Na vida é Deus, pátria, família e liberdade. Liberdade para pensar, liberdade para agir, liberdade para vencer, liberdade para conversar, liberdade para estar na internet, liberdade de expressão, liberdade de conquista. E a gente tem que conquistar essa porra. Porque o Brasil é nosso (…) Aqui nunca vai ser o comunismo, mas uma democracia. Uma democracia para fazer o que você quiser”, afirmou ele na abertura da apresentação.

Cuiabano Lima – que na verdade nasceu em São José do Rio Preto (SP) – não é um simples narrador bolsonarista. Recebendo um salário de R$ 10.185,79 como secretário de Turismo de Barretos (SP), ele foi garoto propaganda da Caixa Econômica Federal em maio do ano passado. Lima era a principal estrela da campanha publicitária do banco estatal para divulgar o auxílio emergencial.

O governo decidiu manter sob sigilo até hoje o cachê pago ao artista, que em 2020 havia participado de outra campanha da Caixa, desta vez ao lado de Gusttavo Lima, para divulgar a Mega Sena da Virada. O valor recebido por ele na ocasião foi de R$ 36 mil.

Em fevereiro deste ano, o presidente autorizou uma verba de mais de R$ 3,3 milhões para o turismo de Barretos. O benefício foi comemorado por Cuiabano, que afirmou na ocasião que Bolsonaro tem um grande carinho por Barretos.

“É grande o orgulho de tê-lo como amigo e a certeza que nossa Cidade sempre terá portas abertas no Governo Federal. A verba autorizada é uma grande conquista para o turismo de Barretos, visto que nunca na história havia conseguido isto junto à esfera federal”, celebrou o locutor.

Cuiabano é mais uma prova da urgência de abrir uma CPI dos Sertanejos para investigar a mamata que esses artistas vêm ganhando do governo. No último domingo (29), o DCM adiantou que Gusttavo Lima recebeu a bagatela de R$ 320 milhões do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) num fundo que, em tese, empresta dinheiro a pequenos e médios empreendedores do Brasil.

Cuiabano Lima em campanha da Caixa

No dia 15 de maio de 2021, quando a foto de Cuiabano Lima estampava a capa do site da Caixa, ele foi o mestre de cerimônia de Bolsonaro durante um ato pró-governo em Brasília. Organizado por ruralistas e religiosos, o evento protestava contra o isolamento social para combater a Covid-19. Os bolsonaristas pediam “intervenção divina” e anunciavam: “Bolsonaro, eu autorizo”, em alusão a uma tentativa de golpe militar.

Na época, o narrador negou que tivesse recebido dinheiro para participar do evento. “Eu estava lá por livre vontade. Fui pelo agro. Eu sou produtor rural e estava representando a classe do agronegócio. Tenho uma fazenda no Triângulo Mineiro e integro a classe de produtores que está ajudando o Brasil. Ninguém parou”, disse.

Já trabalhando na Prefeitura de Barretos, ele negou também a existência de conflito de interesse, aproveitando para comentar o caso da Caixa: “Não houve porque eu fui como produtor rural. O Cuiabano artista é outra coisa. Eu fiz a campanha da Caixa como locutor”.

Cuiabano Lima ao lado de Jair Bolsonaro em manifestação

Como secretário de Turismo de Barretos, no interior de São Paulo, Lima foi empossado no dia 1 de janeiro de 2021, ao lado da atual prefeita, Paula Lemos (DEM). Ele tem uma carga horária de 40 horas semanais.

O locutor de rodeios é o atual presidente do PRTB municipal de Barretos, mas não tem demonstrado muita competência no cargo. Em março deste ano, o partido no município foi condenado pelo TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo). A Corte julgou “não prestadas” as contas da legenda.

Processo em que o PRTB de Barretos, dirigido por Cuiabano Lima, foi condenado