Luana Araújo e a inflexão de um segmento do eleitorado. Por Alberto C. Almeida

Atualizado em 3 de junho de 2021 às 11:59
Luana Araújo na CPI da Covid

Publicado originalmente no Blog do autor:

Por Alberto Carlos Almeida

As pessoas da esquerda mais dura e inflexível criticaram fortemente o apoio que Luana Araújo teve da esquerda moderada em seu depoimento na CPI da Covid. Eles alegam que se ela aceitou um convite para o Governo Bolsonaro é porque ela concorda com a visão de mundo do Presidente da República.

Para fortalecer esta crítica, foram postados posicionamentos de Luana nas redes sociais apoiando e elogiando Bolsonaro, Joice Hasselmann, Janaína Pascoal dentre outras publicações suas que comprovavam seu apoio a políticos de direita. Tudo isso é verdade.

O que os críticos de Luana Araújo perdem é a capacidade de observar a inflexão de um certo segmento do eleitorado que votou em Bolsonaro em 2018, mas dificilmente o fará de novo em 2022. A infectologista aceitou o convite para formular e implementar uma política pública dentro de um governo de extrema direita.

Porém, antes de assumir formalmente o cargo ela foi defenestrada. É evidente que a partir daquele momento Luana Araújo passou a rejeitar o Governo Bolsonaro sob o argumento de que não se trata de um governo sério.

A confirmação desta visão veio na CPI da Covid quando ela se opôs a todos os senadores governistas e concordou com todos os senadores oposicionistas. O bom entendedor sabe que ela tenderá a votar em Lula em 2022.

Luana Araújo representa a inflexão de um pequeno segmento do eleitorado de escolaridade e renda alta que votou em Bolsonaro em 2018 e que caminha para votar em Lula em 2022.

Em todos os lugares do mundo o eleitorado de renda e escolaridade mais elevadas vota proporcionalmente mais em partidos de direita e os pobres em partidos de esquerda. É claro que há pobres de direita e não-pobres de esquerda.

Todavia, em 2018 uma das faces da rejeição ao PT foi a grande empolgação que Bolsonaro despertou não apenas junto a uma ampla fatia dos mais pobres, mas principalmente no eleitorado de classe média-alta. Isso já não ocorre hoje.

Abra-se um parêntesis para a Nova Inglaterra, uma região dos Estados Unidos não muito distante de onde Luana Araújo fez mestrado. Lá uma fatia maior do eleitorado de escolaridade e renda alta vota nos democratas (esquerda norte-americana) do que ocorre nos estados do Meio-Oeste.

Ou seja, a elite econômica da Nova Inglaterra é mais democrata do que a elite econômica do Kentucky.

De volta ao Brasil é possível afirmar que a elite econômica de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, de onde é Luana Araújo, tenderá a rejeitar mais Bolsonaro em 2022 do que a mesma elite de Roraima, Rondônia ou do Amazonas. A ver.

O fato é que a visão da esquerda inflexível dificulta ver os fatos, impede que tenhamos acesso à verdade: a inflexão de uma fatia do eleitorado que abandonará Bolsonaro e votará em Lula em 2022.