Luciano Hang organiza carreatas pelo fim da quarentena em SC. Por Renan Antunes

Atualizado em 27 de março de 2020 às 17:11
Luciano Hang em live terrorista na Havan

Esta reportagem é fruto de crowdfunding do DCM. As demais da série estão aqui

Nesta sexta (27) pela manhã houve uma carreata e um buzinaço em Blumenau (SC), cidade central do Vale do Itajaí, em apoio à reabertura dos negócios no Estado, anunciada ontem pelo governador Comandante Moisés. O movimento é organizado pelo empresário Luciano Hang, dono da Havan.

O ato foi expressivo, mas pequeno se comparado à carreata de ontem (quinta à noite) em Balneário Camboriú (SC), divulgada pelo presidente Bolsonaro nas redes sociais. Esta foi a mais importante por ser a primeira demonstração de força da turma pró fim da quarentena com retomada do trabalho, com epicentro momentaneamente entre o empresariado catarinense.

O movimento começou com o empresário Luciano Hang, o Véio da Havan, na quinta-feira da semana passada exibindo nas redes um vídeo com o mapa da Itália em comparação com o Maranhão, minimizando a perda de vidas no país europeu. No discurso, defendeu abertamente a tese de mais economia e menos quarentena.

As manifestações do dono da Madero, Junior Durski, do megapublicitário Roberto Justus, do dono da Rede TV e do filho do dono da rede Girafa’s parecem estar conectadas com a fala de Hang, que com eles integra um grupo informal de 300 empresários bolsonaristas – todos com a tese de abrir a economia não se importando com o número de mortes entre os idosos que isto venha a causar.

Nos dias que se seguiram Hang mobilizou sua máquina de marketing para contatar cerca de 70 associações de empresários do rico Vale do Itajaí e do litoral catarinense, engajando a turma numa campanha para pressionar o governador Comandante Moisés.

As associações mais importantes (ACIBalneário Camboriú, ACIBlumenai e ACIBrusque) negaram participação oficial na convocação do ato de quinta à noite nas ruas centrais de Camboriú, mas fontes empresariais individuais a confirmaram.

Nesta quinta, enquanto anunciava na TV a abertura de hotéis (uma força e tanto no litoral), bares, restaurantes, indústria da construção (fortíssima em Balneário Camboriú), bancos, profissionais liberais e autônomos, o governador já tinha uma campanha de publicidade pelo fim da quarentena contratada com agências de propaganda, sem licitação, no valor de R$ 2,5 milhões – a maior parte para o empresário Wilfredo Gomes, publicitário que age nas sombras de todos os governos desde o tempo de Luiz Henrique da Silveira (MDB, governador de 2003 a 2010).

O documento da dispensa de licitação

O Comandante Moisés vinha ensaiando um aparente afastamento de Bolsonaro, principalmente porque ele foi um dos primeiros a decretar quarentena total, até de ônibus, recusando-se a aceitar o termo “histeria” com que Bolsonaro tratava o coronavírus. Ele participou do encontro de governadores do Sul desta semana, mas nada fazia supor que ele daria uma guinada na sua decisão de quarentenar o povo do estado.

O que pesou na sua decisão foi ouvir de Hang a voz do empresariado, num estado que votou massivamente em Bolsonaro, nas costas de quem ele se elegeu governador.

O presidente Bolsonaro capitalizou o movimento de Hang. No seu vídeo Itália/Maranhão, o Véio da Havan meteu uma fake news poderosa: disse que um amigo dele ficou com 70 mil sacos de cimento se deteriorando por falta de obras. Na verdade, ele falava dele mesmo, que participa de vários empreendimentos imobiliários na praia mais famosa do sul do Brasil.

Governdor Moisés (esq.) e Wilfredo Gomes (centro)