Lucrécia Bórgia é a patrona das libertinas convertidas

Atualizado em 24 de novembro de 2012 às 18:45

 

Holliday Grainger, como Lucrécia na série canadense-húngara-irlandesa Os Bórgias

Ri sozinho.

Acabei de ler uma biografia de Lucrécia Bórgia, a bela filha do Papa Alexandre VI que o tempo transformaria numa das mulheres mais malfaladas da história.

O autor da biografia é um historiador alemão do século 19, Ferdinand Gregorovius. Achei-no no iBooks. Pude lê-la graças ao admirável trabalho de digitalização de livros do Projeto Gutemberg. Meu interesse pelos Bórgias – li também uma obra de Dumas sobre os crimes da família – veio da série de uma série de tevê claramente inspirada nos Tudors.

O que me fez rir foi a descrição dos últimos anos de Lucrécia. Ela estava pia, absolutamente entretida com a Igreja e Deus. Já não tinha nada a ver com a libertina deslumbrante que, numa célebre festa descrita pelo responsável pelo cerimonial dos Bórgia, o “Baile das Castanhas”, viu com o pai papa e os irmãos 50 cortesãs dançarem para um grupo de convidados. Primeiro vestidas, depois nuas, e enfim entregues a uma sessão de sexo grupal na qual os homens com melhor desempenho foram financeiramente recompensados.

Bem.

Lucrécia, depois de farrear a vida toda, virou uma carola. O autor da biografia observa o seguinte. “É comum que mulheres que tenham amado em excesso se transformem depois em fanáticas religiosas”.

Perfeito.

Quantos casos vi no jornalismo de mulheres que, depois de uma longa carreira de sexo frenético, se transformam na meia idade em monjas, em geral budistas? Várias vezes comentei isso com amigas e amigos meus. Algumas ficam com raiva das jovens repórteres em quem vêem a si próprias no apogeu perdido da carne e da luxúria.

Lucrécia – com “sua graça, com seu busto de formas perfeitas, com seu andar de quem caminha sobre as nuvens”, segundo relatos de seus contemporâneos” — é uma espécie de padroeira delas, das mulheres que amaram demais e depois trocaram os excessos da carne pelos da religião.

Este texto foi publicado no Diário do Centro do Mundo em 16 de novembro de 2011.