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Por Moisés Mendes
O desespero nos conduz à tentação da busca por heróis que possam nos tirar do inferno do bolsonarismo. Mas até os heróis no Brasil hoje duram algumas horas e se evaporam antes de produzirem milagres.
Foi bem ruim a sensação de que a aposta na médica Ludhmila Hajjar para a Saúde não deu certo porque ela teria se desiludido com Bolsonaro. Mas não era nada disso. Não deu certo porque Bolsonaro a rejeitou.
Vai ficando cada vez mais claro que a médica cotada para o Ministério da Saúde se jogou nos braços de Bolsonaro. Que a reunião de domingo, quando ela foi sabatinada por Bolsonaro, por Eduardo e por Pazuello, não teria sido uma decepção para ela, mas para o genocida.
Vamos entendendo que Ludhmila não caiu numa armadilha, mas se atirou de corpo e alma na ambição de ser ministra de Bolsonaro. E que, por ter ficado sabendo de suas declarações de simpatia por Dilma Rousseff (e de um áudio em que ela ataca Bolsonaro), o sujeito a mandou embora.
Quando Ludhmila emocionou o Brasil declarando no Jornal Nacional, na segunda-feira, que sonhara com um plano para salvar o país, quem falava era uma médica ressentida. A cardiologista havia sido chamada e depois esnobada por Bolsonaro.
Se não fosse por isso, ela teria encarado tudo o que Bolsonaro representa para ficar com o cargo. Há muitas informações desagradáveis sobre a postura da médica, mas essa é a básica: ela se deu mal, não porque se assustou com Bolsonaro, mas porque ele se assustou com ela.
Bolsonaro percebeu que iria entrar numa fria, porque já estava sendo bombardeado pela extrema direita e não ganharia o que pensava ganhar com a adesão da moça.
Bolsonaro queria glamourizar o Ministério da Saúde com uma mulher que, fora do bolsonarismo, teria um apoio que nem Luiz Henrique Mandetta teve.
O Brasil deve ficar sabendo que, depois da reunião de domingo, a médica informou Bolsonaro de que estava pronta para dançar com o negacionismo. A Folha noticiou a mensagem que ela mandou a Bolsonaro dizendo: eu topo a missão, de forma incondicional.
Bolsonaro respondeu: não vai dar. E Ludhmila decidiu cair atirando. Era, na versão que vendeu, uma mulher surpresa com a insensibilidade de Bolsonaro diante das suas ideias.
A médica dizia ao Brasil que estava frustrada com as posições de Bolsonaro, quando até o mais imbecil eleitor de Bolsonaro sabe quem é Bolsonaro. Não havia como ser enganada.
A primeira impressão que ficou foi a de que a cardiologista havia tentado salvar Bolsonaro para então salvar o Brasil.
Sempre vai aparecer alguém dizendo que ela é atacada por ser mulher. Menos. Ela entrou no covil dos Bolsonaros e não foi aceita. E agora sofre perseguição criminosa dos fascistas com os quais sonhou conviver. Só isso.
Não foi desta vez que tivemos a chance de ver alguém, dentro do governo, confrontar Bolsonaro com a sua ação genocida.
Ludhmila foi uma miragem e enganou até boa parte da esquerda, só porque um dia tocou violão e cantou para Dilma.