Lula agora é “entre competitivo e favorito” para 2026, diz Antonio Lavareda

Atualizado em 27 de setembro de 2025 às 16:31
Lavareda e Nassif. Foto: Reprodução

Por Miguel do Rosário

“Olha só, Nassif, podemos responder diretamente. Acho que é consistente, sim.”, declarou Antonio Lavareda sobre a melhora na aprovação de Lula, em entrevista ao jornalista Luis Nassif, editor do portal GGN.

Presidente do Ipespe e um dos maiores especialistas em opinião pública do país, Lavareda comentou a nova rodada da pesquisa Pulso Brasil, série bimestral que mede a aprovação dos poderes e do governo. O levantamento, realizado entre 19 e 22 de setembro, mostrou que a aprovação de Luiz Inácio Lula da Silva subiu sete pontos em dois meses: de 43% em julho para 50% em setembro, enquanto a desaprovação ficou em 48%. Até julho, Lula estava em terreno negativo, com saldo de desaprovação. Agora, recupera competitividade e aparece, pela primeira vez no segundo mandato, como favorito para a eleição de 2026.

Segundo Lavareda, a virada se deve a uma combinação de fatores. O primeiro foi a mudança na comunicação do governo, que passou a falar em justiça tributária de forma mais acessível, reagindo à votação no Congresso sobre o IOF. Esse ajuste teria tirado o governo das cordas. Outro fator foi a queda da inflação de alimentos, que reduziu o mau humor da população nas idas ao supermercado e às feiras. Em seguida veio o chamado “fator Trump”: a política tarifária do ex-presidente americano abriu espaço para Lula se posicionar e ganhou grande repercussão no Brasil. Além disso, a condenação de Jair Bolsonaro por tentativa de golpe reforçou a percepção de estabilidade institucional. E, mais recentemente, a reação popular contra a chamada PEC da blindagem, aprovada pela Câmara, levou milhares às ruas e criou um ambiente de solidariedade em torno do presidente.

Lavareda destacou que parte da recuperação decorre da reconquista do eleitorado histórico de Lula. Embora o Tribunal Superior Eleitoral registre o resultado oficial de 50,9% dos votos válidos em 2022, isso corresponde, em termos de eleitorado total, a cerca de 39%. Hoje, com 50% de aprovação, Lula não só reconquistou esse grupo como também atraiu mais 11 pontos de cidadãos que não votaram nele. O analista lembrou ainda que 32 milhões de brasileiros se abstiveram no último pleito, em sua maioria eleitores pobres e de baixa escolaridade. Para esse contingente, o custo de votar — deslocamento, tempo, condições — muitas vezes é impeditivo. “É uma questão para a qual o Brasil e suas instituições precisam prestar atenção”, disse Lavareda.

Lula discursando na ONU. Foto: Divulgação

Aqui cabe um contraponto meu: é verdade que há dificuldades concretas para parte da população exercer o voto. Mas também é fato que muitos se abstêm por opção. O voto obrigatório no Brasil tem uma multa baixa e a justificativa é simples, o que torna a abstenção relativamente barata. Ou seja, não se trata apenas de barreiras econômicas, mas também de uma escolha consciente de não participar. Ainda assim, cabe ao Estado ampliar campanhas de conscientização e garantir transporte gratuito nos dias de eleição, para que o voto — que é direito e também dever — possa ser exercido plenamente.

Lavareda também comparou a trajetória de Lula com outras experiências de presidentes em busca da reeleição. Em 2005, após o mensalão, Lula chegou a 42% de aprovação, mas recuperou para 55% em 2006 e venceu. Bolsonaro, em 2021, tinha 36% de aprovação e terminou 2022 com 43%, o que o levou ao segundo turno. A regra, segundo o analista, é clara: presidentes têm vantagem estrutural. Dos três que disputaram a reeleição, todos venceram. Entre governadores, em 2022, 19 dos 20 candidatos à reeleição foram reconduzidos. O poder do incumbente, diz ele, está no controle da agenda, na centralidade na mídia e na capacidade de produzir fatos políticos.

O saldo de Lula havia despencado para -13 em março de 2025. Agora, voltou a zero, com empate técnico, mas em curva ascendente. A pesquisa não captou a repercussão das manifestações de setembro nem o discurso de Lula na ONU, o que pode reforçar ainda mais a tendência. E Lavareda foi categórico: “Hoje, com 50 pontos, ele já é um candidato, digamos, entre competitivo e favorito.”