Lula líder, crise na comunicação. Por Alberto Carlos Almeida

Atualizado em 28 de abril de 2022 às 12:25

Por Alberto Carlos Almeida

Lula

Já participei como consultor e como coordenador de pesquisas e de comunicação de inúmeras campanhas eleitorais, em diversos níveis. É a primeira vez que vejo ser propalada a versão como essa de que a campanha do líder das pesquisas desde junho de 2021, Lula, com chances reais de vitória no primeiro turno, passa por uma crise na comunicação. Por um lado os tuiteiros jovens de esquerda afirmam que Lula não sabe se comunicar nas mídias sociais, por outro a grande mídia alega que trocas no comando da comunicação petista são a prova cabal de tal crise. Quando vejo estas afirmações (suposições), confesso, tenho vontade de chorar.

Franklin Martins deixou de ser o coordenador da comunicação da campanha de Lula em função de um conflito que se tornou público com Jilmar Tatto, que fora o candidato do PT a prefeito de São Paulo em 2020 e hoje é o secretário nacional de comunicação do partido. É normal que existam disputas de espaço em qualquer campanha eleitoral, ainda mais naquela favorita para governar o Brasil. A presidente do partido, Gleisi Hoffmann, tentou colocar água fria na fervura deste conflito, mas prevaleceu o ditado “quando um não quer, dois não brigam” e ambos se mantiveram irredutíveis na disputa por espaço. O desfecho foi a saída de Martins da coordenação. Franklin caiu para cima, pois se trata de alguém muito respeitado por Lula e terá mais tempo para fazer o de sempre: aconselhar o candidato.

Os incautos argumentam (supõem) que a troca do marqueteiro também foi sintoma de crise. Mais um ledo engano. Franklin Martins inovou e fez um processo de seleção do profissional de comunicação para a campanha. O escolhido chegou a desenvolver algumas peças de publicidade, ainda que não tivesse sido formalmente contratado para todo o processo eleitoral. Trata-se de algo normal cuja remuneração é por tarefa. Porém, como é público, a fim de assumir a campanha foi cobrada a quantia de 45 milhões de reais. Como a direção do partido considerou o preço muito caro, buscou outro profissional.

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Em suma, nas últimas semanas o PT trocou o coordenador de comunicação e o marqueteiro da campanha de Lula, os motivos para as duas mexidas foram diferentes e nada tiveram a ver com crise ou mesmo incapacidade de se comunicar nas redes sociais. A propósito, os jovens tuiteiros de esquerda acham que o Lula das mídias sociais de 2022 tem que tomar como referência o que fez Boulos para prefeito de São Paulo em 2020. Nelson Rodrigues estava coberto de razão quando perguntado sobre qual conselho daria aos jovens: “envelheçam meus filhos, envelheçam”.

Lula jamais fará nas mídias sociais uma campanha a la Boulos. Lula tem 76 anos, Boulos tem 39. Lula já comandou o país por oito anos quando tomou decisões que afetaram a vida de todos nós, ele se reuniu com várias dezenas de chefes de governo e estado e foi recebido com pompa e circunstância pela eterna rainha Elizabeth no Palácio de Buckingham. Boulos nunca teve mandato algum, é líder de movimentos sociais, comanda ocupação de prédios sem uso e se reúne sem pompa com prefeitos e vereadores a fim de atingir os objetivos de sua militância. Desejar que Lula mimetize em alguma medida a campanha que Boulos fez nas mídias sociais para a prefeitura de São Paulo é querer que o velho sindicalista fique parecido com o tiozão da famosa propaganda da Sukita, seria patético. Os jovens tuiteiros de esquerda provavelmente nunca ouviram falar em dissonância cognitiva, daí a necessidade de lerem mais Nelson Rodrigues.

Quanto à crise de comunicação de uma campanha que lidera as pesquisas há quase uma ano, é risível. Talvez o adjetivo crise se aplique sim à nossa mídia, crise jornalística mesmo, talvez até crise ética por não dar nenhum espaço relevante ao que foi decidido na ONU acerca do que Sérgio Moro fez com Lula. Não divulgar este fato é sinal de crise. Também é sinal de crise de comunicação (e política) o desempenho (somado) nas pesquisas nacionais de intenção de voto de André Janones, Doria, Eduardo Leite, Simone Tebet, Mandetta, Ciro, Sérgio Moro e de todos os anões eleitorais da terceira via. Mas ninguém diz isso, a crise é do líder (risos). A crise também se abate na campanha do Presidente Bolsonaro, que precisa ocupar duas horas de cerimônia no Palácio do Planalto para enaltecer um deputado condenado pelo Supremo Tribunal Federal, em vez de tratar de temas prementes para a população como a inflação e o desemprego.

Diante disto tudo, apenas lamento que a qualidade da análise política seja tão baixa. Quem as lê fica mais desinformado do que bem informado. Na verdade, afirmar que a campanha de Lula está em crise e nada dizer sobre a cobertura politica da mídia, ou mesmo sobre a crise das demais campanhas é uma grande fake news. Porém, uma fake news que não está nos grupos de WhatsApp de evangélicos, mas em todos os respeitados sites de notícia. O Brasil vai de mal a pior. Lastimável.

Publicado originalmente no site Alberto Carlos Almeida

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