
Erraram os que, apesar das décadas de aprendizado de Lula, esperavam que ele fosse dizer publicamente que desconfia de Trump. Lula não chegou ontem à vitrine da ONU como celebridade mundial.
Em 2009, Barack Obama disse que ele era o cara. Esse ano, Trump informou de improviso que há uma química boa entre eles. Lula retribuiu: se for, que assim seja.
Lula só pode dizer a quem está no seu entorno, principalmente ao assessor especial Celso Amorim, que não confia em Trump. E que o elogio pode ter sido uma armadilha, porque o americano vive da humilhação dos outros.
Mas, para consumo público e externo, o brasileiro deve fazer o que o prefeito de Mamanquape faria. Lula disse na coletiva de imprensa dessa quarta-feira em Nova York:
“Aquilo que parecia impossível deixou de ser impossível e aconteceu. E eu fiquei feliz quando ele disse que pintou uma química boa entre nós. Como eu acho que a relação humana é 80% química e 20% emoção, eu acho que é muito importante essa relação.

E completou:
“Tem muita coisa para discutir sobre a necessidade de garantir a paz no planeta Terra. E eu fiquei satisfeito quando ele disse que é possível a gente conversar”.
Pronto. Lula tirou as armas das mãos do fascismo brasileiro, que esperava declarações desconfiadas. Mandou dizer a Trump: se você quer baile, vamos dançar. Se for um jogo, vamos jogar.
Trump diz que gosta de Lula, e Lula, sem dizer o mesmo do fascistão, avisa que está disposto a conversar. Bolsonaro, Eduardo, a família toda, os líderes da extrema direita, essa gente esperava que a provocação de Trump fosse prosperar e caminhar para um confronto.
Lula se reuniu com Amorim, ouviu integrantes da delegação brasileira e ficou acertado que diria, como disse na coletiva, que está pronto para o baile ou para o jogo.
Lula também decidiu manter o truque de dizer que Trump investiu contra o Brasil por não ter “as informações corretas”. Não seria porque deseja aniquilar opróprio Lula, o governo e o Supremo. Mas porque está mal informado. Pelos Bolsonaros, claro.
Mas sabe que Trump está muito bem informado e que sua estratégia é essa mesma: bater no Brasil para destruir as esquerdas e atingir também o Brics e o novo poderio da China.
Lula sabe disso, como todos nós sabemos. Mas vai para a negociação de questões pontuais, na área econômica, sabendo que tudo vai continuar na mesma toada na área da macropolítica.
O encontro prometido deve acontecer na semana que vem e, acreditem, pode até ser presencial. Podemos, claro, esperar que Trump tente enganar Lula. Mas Lula não é um Zelensky.