Lula diz que vetaria anistia e que não tem “relação” com Trump

Atualizado em 17 de setembro de 2025 às 20:09
Presidente Lula em entrevista à BBC nesta quarta (17). Reprodução YouTube

Em entrevista exclusiva concedida na manhã desta quarta (17), no Palácio da Alvorada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que vetará eventual projeto de anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) caso o Congresso aprove a medida. “Se viesse pra eu vetar, pode ficar certo de que eu vetaria”, declarou à BBC News Brasil e à BBC News.

A fala ocorre enquanto a base bolsonarista pressiona o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), a levar a proposta de anistia à votação. Lula disse que o tema é de competência do Legislativo, mas reiterou que, se chegar à sua mesa, usará o veto. Bolsonaro foi condenado pelo STF em 11 de setembro a 27 anos de prisão no processo sobre tentativa de golpe de Estado, decisão ainda sujeita a recursos. Leia trechos:

BBC – O senhor já falou a respeito da condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro. Gostaria de saber: que sentimento o senhor teve quando soube da existência de um plano para lhe assassinar?

Lula – Eu fiquei um pouco bestificado porque o Brasil não tem essa cultura. O Brasil não tem essa cultura de assassinato como você vê no México. De vez em quando você vê isso num país da América Central ou nos Estados Unidos. O Brasil não tem essa cultura.

Eu fiquei assustado porque eu imaginei que a gente já tinha derrotado a ideia de golpe no Brasil e, de repente, surge um cidadão que se acha no direito de desacreditar tudo o que é normal, de negar todas as instituições e achar que somente o que ele pensa que é verdadeiro.

Eu fiquei imaginando como é a cabeça de um cidadão que, ao perder as eleições, arquitetou a morte do ganhador para não deixar ele tomar posse.

BBC – Está havendo uma articulação no Congresso para que seja concedida a anistia. O senhor vetará uma anistia?

Lula – O presidente da República não se mete numa coisa do Congresso Nacional. Se os partidos políticos entenderem que é preciso dar anistia e votarem assim, isso é um problema do Congresso.

BBC – Mas isso volta para o senhor sancionar…

Lula – Se for PEC (proposta de emenda constitucional), não precisa sancionar. Se for uma lei aprovada e os partidos estiverem de acordo, o presidente da República… se viesse pra eu vetar, pode ficar certo de que eu vetaria. Pode ficar certo que eu vetaria. (…)

BBC – E com relação a associar o Trump ao fascismo? O senhor se arrepende de ter feito isso?

Lula – O comportamento dele é muito ruim para a democracia. O presidente Trump tem negado tudo aquilo que é habitualmente conhecido de respeito às instituições democráticas do mundo. Ele tem tido um comportamento muito ruim e tem apoiado pessoas antidemocráticas no mundo inteiro. Mas isso não mexe com a relação do Brasil com os Estados Unidos. Os dois presidentes de dois países não precisam ser ideologicamente afinados.

O que nós temos que ter é ter responsabilidade de presidente. Ele é presidente de um país e eu sou presidente de outro. A relação de chefe de Estado não tem ideologia. O que tem é o interesse do povo que nós representamos. Eu tive relação com todos os primeiros-ministros da Inglaterra sem nenhum problema. Eu não quero saber de que ser é de direita nem de esquerda. Eu quero saber se ele é primeiro-ministro, se ele tem voto. A minha relação com Trump é a mesma coisa.

Se o Trump foi eleito pelo povo americano, ele é o presidente dos Estados Unidos e é com ele que eu tenho que ter relações. E ele da mesma forma comigo. Ele pode ter uma simpatia pelo Bolsonaro, mas eu sou o presidente. Ele tem que negociar com o Brasil. É assim que dois chefes de Estado se comportam.