Lula e a arte de evitar provocações. Por Fernando Brito

Atualizado em 12 de julho de 2021 às 6:48

Publicado originalmente em Tijolaço

Não se iludam: há muitos obstáculos para Lula ate as eleições de outubro de 2022 .

E estes obstáculos estão longe de ser “candidatos da 3ª via”, mas os argumentos insidiosos que a todo momento se levantarão contra ele.

Busque na memória e recorde que, até poucos meses, o principal deles é que os ranços da campanha anti-PT o tornariam um candidato forte, sim, mas nunca o suficiente para enfrentar Jair Bolsonaro.

Um discurso corroborado por pesquisas que , há pouco mais de um ano, apontavam Bolsonaro em primeiro lugar e Lula com apoio pouco acima de 20%.

De lá para cá, Lula vem galgando um por um os degraus do favoritismo absoluto que ostenta hoje nas intenções de voto sem qualquer arroubo marqueteiro, sem superexposição, sem meter-se em “tretas” políticas.

Sua aposta é, e com todas as fichas, naquilo que o velho Leonel Brizola chamava de “processo social”: a formação da consciência do povo brasileiro sem – ou apesar – das máquinas de “fazer cabeça” da mídia e de do aparelho que dela deflui nas chamadas “mídias sociais” em boa parte “robotizadas”.

Lula joga, e forte, com a memória popular.

Nesse sentido, é possível encontrar semelhanças com o Getúlio de 1950 e outras similaridades penso possam haver com o ritmo da campanha, que, como aquela, só ganhará rua e ritmo muito perto das eleições. Naquela época, a campanha propriamente dita foi um raid de menos de três meses, avassalador.

Não houvesse a pandemia e pudesse circular livremente, tenho certeza de que Lula estaria se movendo apenas pelos cafundós do país, seu carisma e áreas onde seria mais difícil a ação agressiva dos grupos bolsonaristas, que apostam na sua exposição para realizar atos de hostilidade e intimidação que o bolsonarismo é mestre em fazer.

Esta turma, que admite até cancelar eleições, não está disposta a conflitos e armações?

E que não se pode facilitar acontecer antes que a mobilização de massas possa anulá-las.

Ao mesmo tempo em que conversa com forças políticas da direita agora não-bolsonaristas – e só agora, frise-se – Lula sabe que não há espaço para que elas voltem a formar com seu adversário como em 2018 – e está disposto a acolhê-las, mas sem dar-lhes o protagonismo que pretendem.

Porque sabe que as próximas eleições terão uma natureza plebiscitária, muito mais que partidárias e que o lugar de “não” a Bolsonaro é seu, de direito. Aqui, cada vez mais e lá fora, no mundo.