Lula é Geni. Por Camilo Vannuchi

Atualizado em 26 de janeiro de 2018 às 10:26

Texto do escritor e jornalista originalmente postado em seu Facebook.

Lula. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Uma ideia não me sai da cabeça: Lula é Geni.

Lula é a Geni de Chico, aquela do Zepelim. E o tempo da música, para além dos compassos, é o tempo de toda uma vida.

Lula nasceu sob o signo do errado, do torto, alguém que não deveria existir. Como Geni. Não deveria existir desde menino, sertanejo retirante, desafiando as estatísticas que, pela lógica, o teriam incluído entre as vítimas da fome e da mortalidade infantil na Garanhuns severina dos anos 1940. Não deveria existir também como líder sindical e político: “Que mania essa gente do Norte tem de não se colocar em seu devido lugar! Quem esse metalúrgico pensa que é?”

Cuspiram em Lula como cospem em Geni. Bateram em Lula como batem em Geni. Para isso foram feitos. Reduzidos à própria insignificância, Lula e Geni deveriam se contentar com o mangue, o cais do porto, atrás do tanque, o mato. Ousaram ir além. Vê-los caminhar entre homens nobres é um despropósito. Vê-los frequentar os salões do poder, uma heresia.

Quando o país precisou de Lula, quando a cidade precisou de Geni, não mediram esforços para lhes beijar a mão. Prefeitos, bispos, banqueiros com seus milhões. Lambuzaram-se até ficarem saciados. Lula e Geni, agora, eram aplaudidos, festejados. Recorde de popularidade. “Vocês podem nos salvar. Benditos sejam.”

A fase final da canção demorou a chegar. Muitos não acreditavam que ela viria. Outros, atentos, esperavam. E havia os que se movimentavam, à espreita, ansiosos e urgentes. “Até quando teremos de suportar essa gente?” Quatro, oito, doze anos… Chega!

Joga pedra no Lula
Joga bosta no Lula
Persegue o Lula
Persegue a família do Lula
Mata a mulher do Lula
Condena o Lula
Tira o passaporte do Lula
Prende o Lula

Eles não sabem que Lula é semente.
Enverga, mas não quebra.
Balança, mas não cai.
Corpo fechado, Lula nem sequer é feito do mesmo material que nós. Lula é feito de sonho. E coragem.

Camilo Vannuchi é jornalista e escritor, mestre e doutorando em Ciências da Comunicação pela USP. No momento, prepara uma biografia da ex-primeira-dama Marisa Letícia.