Lula em carta ao Partido Trabalhista inglês, agradecendo homenagem: “Um dia a justiça será feita”

Atualizado em 23 de setembro de 2019 às 10:56
Lula. Foto: Reprodução/YouTube

“Companheiros do Partido Trabalhista,

Com 73 anos de idade, 50 dos quais dedicados à luta contra a desigualdade, sinto-me rejuvenescido por minha indicação à presidência honorária do “Young Labour”. Essa honra prova, acima de tudo, que só se envelhece quando abandonamos os sonhos da juventude, e nunca abandonarei os meus. Também prova que a injustiça existe em toda parte e que as lutas dos trabalhadores são as mesmas em todo o mundo.

“Austeridade” é a palavra mágica e miserável que os ricos em todos os lugares usam para atacar os direitos e conquistas da classe trabalhadora. “Precisamos economizar recursos, cortar custos”, dizem eles, à medida que desmontam o estado e se tornam cada vez mais ricos, enquanto os pobres se tornam cada vez mais pobres. O mesmo ocorre no Reino Unido, assim como no Brasil desde o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff e a subsequente eleição de um governo de extrema direita.

Fui líder sindical, ajudei a criar o Partido dos Trabalhadores (PT) e tive a honra de ser eleito e reeleito presidente do meu país. Nunca antes um operário chegou ao mais alto cargo do Brasil. Por essa razão, eu precisava provar que a classe trabalhadora é capaz de governar, governar para todos, mas com cuidado especial para com os mais necessitados, este será sempre o caminho mais seguro para a construção de um país mais desenvolvido e justo.

Foi assim que criamos, durante minha administração e a da presidenta Dilma Rousseff, mais de 21 milhões de empregos. Conseguimos um aumento de 70% no salário mínimo. Criamos mais universidades públicas do que nunca. Dobramos o número de jovens no ensino superior. Construímos moradias populares para cerca de 3 milhões de famílias. Tiramos 30 milhões de pessoas da pobreza extrema. Reduzimos consideravelmente o desmatamento na Amazônia. Pela primeira vez, tiramos o Brasil do Mapa da Fome.

Foi por isso que houve um golpe contra a presidenta Dilma Rousseff em 2016, e foi por isso que estou preso por mais de 500 dias sem nenhuma evidência de irregularidade criminal. A elite que governou o Brasil por cinco séculos me fez prisioneiro político e me impediu de participar das eleições de 2018, desconsiderando a Constituição brasileira e ignorando uma resolução do Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas.

As conseqüências da ascensão da extrema-direita no Brasil estão sendo sentidas em carne e osso por nosso povo e estão sendo transmitidas ao mundo inteiro através de imagens da Amazônia em chamas e helicópteros policiais atirando nas comunidades mais pobres do Rio de Janeiro.

Tudo isso me causa uma dor imensa, mas não me faz desistir. Um dia, a justiça será feita e deixarei a prisão ainda mais disposto a lutar pelo nosso sonho, compartilhado por jovens de todas as idades: a criação de um mundo melhor.

Muito obrigado e até breve.

Luiz Inácio ‘Lula’ da Silva”