
Joaquim de Carvalho, no programa “Café da Manhã DCM” do dia 16/09/2019, questionou o motivo de a Globo desejar a prisão do Lula. A emissora é a voz do Establisment (1) e repudia tudo o que o ex-presidente representa: o povo pobre e o trabalhador. Estava muito claro para mim que a intenção não era apenas tirar Lula da disputa eleitoral, mas humilhá-lo, assim como os senhores faziam com seus escravos.
A velha mídia precisava destruir o mito (Lula é um mito de verdade) associando-o a corrupção e consolidando esta percepção através de uma condenação e uma prisão com aparência de legalidade. E esta destruição de imagem deveria ser tão bem feita que a esquerda deveria sentir vergonha de defender Lula e continuar sendo o que é.
Está muita arraigada na cultura nacional a seguinte mentalidade: “Se foi preso é porque alguma coisa fez”. Ou ainda: “Quem não deve não teme”(2). Portanto, uma condenação judicial tem grande credibilidade, ainda mais se o julgador virar herói da grande mídia. Esta estratégia deu tão certo que muita gente abandonou a esquerda decepcionada com o líder petista e uma parte da esquerda, que permaneceu, insiste em considerá-lo corrupto mesmo após as revelações da “Vaza-jato”. Assim, abriu-se espaço para as ideologias de direita e a entrega do patrimônio nacional para o grande capital estrangeiro.
Hoje em dia, quando defendo o ex-presidente nas redes sociais, frequentemente leio: “você é condescendente com a corrupção?”. Respondo que não o considero corrupto. Então dizem: “Lula é presidiário”. E não adianta contra-argumentar que Tiradentes, Gandhi, Marthin Luther King, Mandela, dentre muitos grandes homens, foram também “presidiários”. E quando lembro para estas pessoas, quase sempre “cristãs”, que elas rezam para um condenado e “presidiário” todos os dias à noite, elas se sentem ofendidas.
A degradação pública do Lula serviria ao propósito de consolidar esta imagem de um homem desprezível, provocando o sentimento de derrota na esquerda e motivando a militância de direita. O acorrentamento dos pés e das mãos, a cabeça raspada do ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, foi um teste para ver a reação da sociedade diante de uma futura humilhação do líder petista. Não houve tal exposição vexatória ao líder popular, primeiro porque os companheiros dele negociaram com a polícia um tratamento mais humano e, segundo, porque havia um temor de revolta popular. Tenho certeza de que João Dória Jr. não nutria os mesmos receios quando tentou levar o ex-presidente para Tremembé.
Há no inconsciente de nossas elites um desejo de punir exemplarmente aqueles que se voltam contra o Status Quo (3), assim como os romanos na antiguidade faziam com os povos conquistados. Entre estes estavam os gauleses advindos da região onde hoje está situada a França. Vercingetorix ousou unir tribos bárbaras contra o poderoso exército do general romano Júlio César. Após a derrota na Batalha de Alésia, o rei dos gauleses foi levado acorrentado, humilhado, bem como seus companheiros de armas, pelas ruas de Roma em uma procissão chamada de Triunfo e depois executado (4) (5) (6). Tenho certeza que, se pudessem, uma parte considerável da direita e do establisment gostariam de fazer o mesmo com o Lula.
Toda esta situação me faz lembrar a advertência que o ex-primeiro ministro espanhol Felipe González teria feito ao líder popular, segundo Luís Nassif:
“Lula, prepare-se que eles vão querer te processar, cassar ou prender. Se não conseguirem, vão tentar te matar.” (7)
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Gustavo Adolfo Medeiros é engenheiro formado pela UFF 3 mestre em inteligência artifical pela UFRJ.
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(1) Definição de Establisment:“a elite social, econômica e política de uma país” e “grupo de indivíduos com poder e influência em determinada organização ou campo de atividade”
Site: “Tecla SAP”
Link: https://www.teclasap.com.br/establishment/
(2) Observação: Foi por acreditar demais na mentalidade expressada pelo ditado popular: “Quem não deve não teme” que Dilma não se preveniu contra a conspiração que a levou ao impeachment. Também é válido para os governos do PT ao aceitarem sem questionar o primeiro nome da lista tríplice do Ministério Público Federal e ao não terem cuidado na nomeação de ministros do STF.
(3) “Status Quo” é uma expressão latina que significa “estado atual”. “Manter o status quo”, no contexto brasileiro, é manter todo o sistema de classes e dominação atual.
Site: “Significados”
Link: https://www.significados.com.br/status-quo/
(4) Título: “Os Celtas”
Canal: The History Channnel.
(5) Site: “RTP Ensina”
Título: “Rendição de Vercingétorix a Júlio César”.
Link: http://ensina.rtp.pt/artigo/rendicao-de-vercingetorix-a-julio-cesar/
(6) Título: “História de Roma”
Autor: Cássio Dio
Link: http://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Roman/Texts/Cassius_Dio/40*.html#33
(7) Site: “GGN”
Título: “Xadrez dos desdobramentos do Power Point”
Autor: Luís Nassif.
Link: https://jornalggn.com.br/coluna-economica/xadrez-dos-desdobramentos-do-power-point/