Lula fez de um mero mandado de prisão um grandioso ato político. Por Renan Quinalha

Atualizado em 11 de abril de 2018 às 9:30
Foto de Francisco Proner

Texto publicado na Revista Cult.

Por RENAN QUINALHA

O ex-presidente, por não se apresentar em Curitiba dentro do prazo de 24 horas estabelecido pelo juiz Sérgio Moro como se fosse uma concessão generosa, recusou os termos “benevolentes” de sua rendição. Ao fazê-lo, não violou lei alguma, pois é um dever da polícia cumprir um mandado de prisão. E o povo, que fez um cordão em volta de Lula, apenas exerceu seu direito de manifestação.

Com elegância e contundência política, Lula impôs os termos da sua apresentação à polícia. Realizou uma missa em memória de sua companheira de vida e foi almoçar com sua família antes de ir a Curitiba.

Ele preferiu usar suas últimas horas de liberdade para estar no meio do povo e relembrar sua história de lutas ali onde tudo começou, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Milhares de pessoas estiveram ali, por dois dias, manifestando a indignação e a solidariedade ao ex-presidente.

Ele será preso, não há mais dúvidas. Mas preso por uma condenação fajuta, em um processo eivado de ilegalidades. Lula foi mais uma das vítimas da seletividade penal da justiça.

Acusado com base em convicções e não em provas, Lula teve conversas privadas suas gravadas e ilegalmente divulgadas. Inclusive a então presidenta da República teve sua conversa telefônica ilegalmente gravada e divulgada. Houve show de Power Point do Ministério Público na acusação.

Houve uma condução coercitiva ilegal e abusiva de alguém que sempre teve endereço certo e que nunca se negou a colaborar com a Justiça. Houve liminar de Gilmar Mendes impedindo Lula de ser ministro e que só valeu, única e exclusivamente, contra ele. Houve um tempo recorde de rapidez para a condenação em segundo grau e uma agilidade única para a expedição do mandado de prisão.

Houve uma sessão do STF toda manipulada por Carmen Lúcia para impor um entendimento de possibilidade de execução da pena após condenação na segunda instância, mesmo sabendo-se que tal entendimento da Corte seria revisto se a tese jurídica fosse pautada em abstrato.

Tudo isso feito para colocar Lula atrás das grades. Não pelos erros dos seus governos – que são vários e que sempre fiz questão de apontar -, mas pelos acertos que tanto incomodaram nossas elites. A verdade é que estas nunca suportaram o mínimo de justiça social e dignidade que o povo teve com os governos de Lula e Dilma.

Todos os presos são, em certo sentido, presos políticos. Lula, contudo, é o maior preso político-eleitoral do país. Isso é vergonhoso.

Qualquer que seja a imagem da prisão que a grande mídia utilize nos jornais e revistas, é a foto de Francisco Proner que ficará para a história de um líder popular que foi impedido de concorrer às eleições e injustamente preso. Mas Lula será cada vez mais ideia e inspiração pra renovação das nossas lutas.