Lula mostra que voltaremos a ouvir a voz dos que nunca tiveram voz. Por Pedro Cardoso

Atualizado em 11 de março de 2021 às 8:41
Lula em Coletiva de imprensa em São Bernardo do Campo
Foto: Cyla RAMOS / @cylabg2

Publicado originalmente no Instagram do autor:

Por Pedro Cardoso

Lula é o assunto dominante da democracia brasileira. E tem mesmo que ser!

Em sua campanha para gerência do executivo, iniciada, a meu ver, em sua entrevista coletiva de ontem, voltaremos a ouvir a voz dos que nunca tiveram voz.

Pode-se desconfiar da sinceridade de Lula, muitos desconfiam, mas é impossível negar a brasilidade que explode vigorosa no que ele diz, e no modo.

Os temas da pobreza surgem protagonistas em contraste aos temas moralistas dos falsos conservadores do fascismo messiânico militarizado de Jair e sua elite. E que alívio me trouxe voltar a ouvir a voz brasileira.

Mas o que chamo eu de Brasil? Não estarei eu cometendo a mesma arrogância que aponto nos militares, de chamar de brasil apenas o que eles desejam que o brasil seja?

Eu bem estaria se não diferenciasse o Brasil que em Lula se expressa do brasil que se expressa no bolsonarianismo. Enquanto o de Lula escrevo iniciado com a maiúscula de nome próprio; o outro, eu rebaixo a nome comum.

E o faço porque a escravidão, na qual a nossa pobreza sistêmica se origina, só será combatida pelos pobres, vítimas dela.

E o PT e Lula foram, em seu começo, uma autêntica voz do Brasil. O que depois se desencaminhou por incompetência, por megalomania, prepotência, porre de poder e até por desonestidade, foi trágico para o futuro desejado; mas, a despeito de tudo, essa voz brasileira, da qual Lula é porta-voz, é preciso voltar a soar com toda a sua grandeza!

Eu não sou entusiasta mais do PT nem de Lula – na verdade, nem de ninguém – mas continuo apaixonado pela voz do Brasil. Essa voz que inaugura sentidos e sintaxes, gramática e ritmo, erudição da cultura popular! Essa é a minha paixão.

Esse é o país e a nação que eu sonho ver dominar a vida política. Essa voz brasileira é a voz de Agostinho Carrara e de todos os personagens que tive a felicidade de representar. Lula me devolve a minha casa.

Não é tudo, não é ele, não será suficiente; mas é sim um resgate da nossa voz. Que a voz autêntica do Brasil se faça ouvir dita por Lula e por muitos mais, por milhões de nós que indicamos o plural apenas pelo sujeito. Esse é o nosso bom português.