Lula na Paulista: o recado de um perseguido. Por José Cássio

Atualizado em 19 de março de 2016 às 17:44

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O Lula que discursou no caminhão da CUT no ato pró-democracia tinha a voz cansada. Parecia triste.

Falou da oposição, sem raiva. “Eles, que se dizem socialdemocratas, eles que se dizem evoluídos, pessoas estudadas, eles não aceitaram o resultado e eles estão atrapalhando a presidenta a governar este país. Eles vestem roupa amarela e verde pra dizer que são mais brasileiros do que nós. Corte uma veia deles para ver se o sangue deles é verde e amarelo. É vermelho como as nossas camisetas! É vermelho como a cor do sangue de Cristo. E eles não são mais brasileiros do que nós!”.

Sobre o ódio que está dividindo os brasileiros. “Alguns setores ficaram dizendo que nós somos os violentos e tem gente que prega violência contra nós 24 horas por dia. Companheiros e companheiras, tem gente nesse país que falava em democracia da boca pra fora!”.

E concluiu: “Aos 70 anos, depois de tudo que passei, pensei que nada mais pudesse me emocionar. Estava enganado. O que vocês estão fazendo hoje é uma lição para quem não acredita no povo brasileiro”.

À sua maneira, o retirante que veio de pau de arara para tornar-se líder sindical, construir o maior partido de esquerda da América Latina e moldar, para o bem ou para o mal, a nova democracia brasileira agradecia a generosidade daqueles que, a despeito de tudo de errado que possa ter feito, de novo sustentam a sua luta por acreditarem que ela é importante para a sociedade.

Desde a década de 70, quando aporrinhava o setor produtivo com greves e arruaça nas portas de fábricas, Lula é um perseguido pelo sistema.

Um cara que incomoda o establishment, para usar uma expressão meio infantil mas adequada para definir uma republiqueta vagabunda cujos líderes da oposição são gente do naipe de Aécio Neves e José Serra. Isso é tão claro quanto um copo cheio d’água da insuspeita Sabesp comandada pelo igualmente insuspeito Geraldo Alckmin.

“O que se está fazendo com ele é uma violência”, discursou o prefeito Fernando Haddad. “Como é possível um país em que você vai dormir e às seis da manhã a polícia bate na sua porta e te leva?”

O prefeito falou dos grampos praticados e jogados no ventilador por Sérgio Moro em conluio com a TV Globo.

“São conversas particulares, muitas vezes envolvendo pessoas da família. Em nada esclarecem as irregularidades que estão sendo investigadas. Qual o propósito disso, humilhar? Hoje é com o Lula, mas amanhã pode ser com um de nós. É uma afronta ao Estado de direito, uma afronta à Constituição e aos direitos individuais, que não podemos aceitar”.

Na plateia, o povo aplaudia.

Talvez consciente de que mais uma vez estão armando contra a gente. Setores econômicos, mídia, parte da Justiça e meia dúzia de políticos picaretas. O que eles querem é o manjar.

O que resta saber é se passarão.