Lula não é comparável a Bolsonaro, diz autor de “Como as Democracias Morrem”

Atualizado em 21 de outubro de 2022 às 13:40
O presidente Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Lula (PT)
Foto: Reprodução

O cientista político e professor da Universidade de Harvard Steven Levitsky avaliou que o ex-presidente e candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) precisa fazer acenos à classe média e ao setor privado, dando maior ênfase ao detalhamento de sua agenda econômica para conseguir aumentar sua base de apoio para o segundo turno das eleições.

“Sem dúvida, [Lula] precisa de acenos para obter o apoio da classe média e do empresariado de que ele precisa para vencer a eleição e para governar”, afirmou. “Ele deveria ter feito todas essas coisas no primeiro turno.”

Em entrevista ao Valor Econômico, Levitsky, coautor do livro “Como as Democracias Morrem” em parceria com Daniel Ziblatt, identificou um novo padrão desempenhado pelos autocratas para desorganizar os regimes democrático e revelou suas perspectivas sobre o atual cenário eleitoral.

Nas eleições de 2018, Levistsky disse que o presidente Jair Bolsonaro (PL) era uma ameaça à democracia e, atualmente, está sustentando que um novo mandato permitirá que ele ganhe o controle sobre instituições como o Supremo Tribunal Federal (STF). “Acho que a democracia brasileira é robusta para sobreviver a isso que passou”, afirmou ele. “Mas, oito anos, não sei. Acho que o Brasil pode perder a democracia.”

Ainda assim, para não apoiar o petista, alguns empresários e setores da Faria Lima citaram seus receios de retrocessos na economia, como o risco da volta do populismo. Levitsky, por outro lado, comenta que o petista, caso seja eleito, irá pegar uma situação econômica difícil. Entretanto, ponderou que é “experiente e pragmático” e conseguirá responder à crise da mesma forma como fez de 2003 a 2010, “com responsabilidade na área macroeconômica”.

Porém, o cientista considera “legítima” a desconfiança do setor privado sobre a futura agenda de Lula, por causa da crise ocorrida no governo Dilma Rousseff (PT).

“É muito importante, se o PT quiser se manter como um dos mais importantes partidos políticos, fazer uma autocrítica e se renovar, desenvolvendo compromissos públicos e críveis para combater a corrupção”, afirmou, ao falar sobre o dever do partido de assumir diálogos sobre corrupção.

O professor de Harvard considerou uma “desonestidade” afirmar que Lula poderia se assemelhar a Bolsonaro na falta de credenciais democráticas, apenas porque o partido defendeu a regulação da mídia ou porque o ex-presidente ensaiou deportar um jornalista estrangeiro.

“Não sei como essas pessoas defendem esses argumentos, se você olhar o que aconteceu de 2003 a 2010”. “Não existe um cientista político na Terra que acha que o Lula é comparável ao Bolsonaro.”

Participe de nosso grupo no WhatsApp, clique neste link

Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link