
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está mobilizando sua equipe diplomática para ampliar as relações comerciais do Brasil com países europeus e a África do Sul, em resposta às recentes tarifas impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros. A estratégia visa reduzir a dependência do mercado estadunidense e abrir novas frentes de exportação para nações que, apesar de seu peso econômico, mantêm um fluxo comercial modesto com o Brasil.
Durante o anúncio de um pacote de R$ 30 bilhões para setores afetados pelas medidas protecionistas de Donald Trump, Lula revelou seus planos de contato com líderes europeus e africanos.
“Semana que vem, telefonarei para o presidente da França, para o primeiro-ministro da Alemanha, da Inglaterra, o presidente da África do Sul”, afirmou o presidente, destacando a necessidade de diversificar os destinos das exportações brasileiras.
Veja o momento da fala de Lula:
As relações comerciais entre o Brasil e as principais economias europeias apresentam desequilíbrios significativos. Com a Alemanha, por exemplo, o Brasil exportou US$ 5,8 bilhões em 2024, mas importou US$ 13,8 bilhões, resultando em um déficit comercial de US$ 7,9 bilhões.
Situação semelhante ocorre com a França, que comprou apenas US$ 3 bilhões em produtos brasileiros, mas vendeu US$ 6,2 bilhões ao país. O Reino Unido mantém um fluxo equilibrado em valores (US$ 3,1 bilhões em cada direção), mas ocupa uma posição secundária no ranking de parceiros comerciais do Brasil.
Especialistas apontam que a estratégia de Lula vai além da simples busca por novos compradores. “A lógica é menos de pressão por compras e mais de construção de rotas alternativas e capital político”, analisou Sidney Lima, da Ouro Preto Investimentos, em entrevista ao Uol.
Com a França, por exemplo, o Brasil sinaliza uma aproximação estratégica dentro da União Europeia, enquanto o contato com a África do Sul reforça a agenda do Brics.
Um dos eixos centrais dessa estratégia é o acordo entre o Mercosul e a União Europeia, que após 25 anos de negociações aguarda ratificação. Lula confirmou que conversará com Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, para destravar o processo.
O tratado, que deve ser votado pelo Parlamento Europeu em setembro, pode criar um mercado integrado de US$ 22 trilhões para 718 milhões de consumidores, beneficiando tanto as exportações agrícolas brasileiras quanto as importações europeias de bens industriais.
No entanto, especialistas alertam para os desafios que alguns setores brasileiros enfrentarão nessa transição. Produtos industrializados de maior valor agregado, como eletrônicos e equipamentos industriais que tradicionalmente tinham os EUA como principal destino, podem encontrar dificuldades para competir no mercado global, especialmente contra concorrentes chineses.
O contexto global mostra a urgência dessa diversificação: em 2024, as exportações brasileiras representaram apenas 1,4% do comércio mundial, com mais da metade concentrada em apenas cinco países (China, EUA, Argentina, Países Baixos e Espanha).
O superávit comercial de US$ 74,6 bilhões registrado no ano passado foi sustentado principalmente por relações com nações fora da Europa, destacando a necessidade de reequilibrar as parcerias comerciais do país.