Originalmente publicado em TIJOLAÇO
Por Fernando Brito
Leonel Brizola dizendo que “eleição não é corrida de 100 metros” é algo que sempre vem à mente quando se observa a movimentação das duas candidaturas hoje reais à Presidência.
Jair Bolsonaro, completamente ausente das tarefas de governo, deu por encerrado o período de articulações quando cooptou o “Centrão” e elegeu o comando do Legislativo, partindo imediatamente para uma fieira de atividades tipicamente de campanha: inauguração de qualquer obra, nem que sejam pequenas e já inauguradas, concentrações, comícios e carreatas em cidades do interior ou capitais menos expressivas.
O discurso, que nunca foi diplomático, passou ao mais aberto grau de agressividade, onde os “ladrão”, “vagabundo” e outras delicadezas pululam. É o “macho”, o homem das bravatas e repisa o “não me deixam trabalhar”, algo já difícil de crer depois de quase dois anos e meio no cargo.
Lula adota um comportamento inverso: fala pouco, mas conversa muito e com muitos. Quase todos, aliás, como mostrou o encontro com FHC. Articula acordos estaduais, motiva candidaturas parlamentares que lhe possam dar bancadas mais minguadas que as de que disporia hoje e carrega por onde vai dois poderosos cabos eleitorais: as pesquisas que o apontam como favoritos e a preocupação com a loucura que Bolsonaro exibe todos os dias.
De quebra, os efeitos da CPI implicam mais desgaste para o governo e uma imensa ânsia nacional para que se deixe para trás os dois pesadelos: a Covid e o governo.
Lula nem tão cedo começará sua campanha de rua, ao contrário do que precipitadamente faz Bolsonaro. Embora possa estar até ansioso por isso, o petista sabe que é preciso que os receios da pandemia sejam superados e ele possa agir naquilo que é insuperável: a proximidade, a conversa e o carinho com o povão, algo absolutamente diferente dos “tchauzinhos”, talqueis e as cínicas invocações religiosas do atual presidente.
Bolsonaro acelera o ritmo das bravatas mais parece cada vez mais distante de poder realizá-las.
Ainda faltam 499 dias para a eleição, Para um país que tem quase um escândalo por dia, muito tempo.