Lula: “Quem vai na Paulista vestido de verde e amarelo é desinformado”. Por Pedro Zambarda

Atualizado em 9 de abril de 2016 às 16:57
Lula no Anhembi
Lula no Anhembi

“A única herança que eu tenho veio de uma mulher analfabeta, mãe de 12 crianças e que perdeu quatro. Eu via bala americana e queria provar, a bala de goma que vocês conhecem hoje. Minha boca salivava, me diziam pra eu levar embora e eu não queria envergonhar ela. O que a minha mãe me deixou de herança foi minha honestidade. E é isso que essa gente está tentando tirar de mim”, afirmou o ex-presidente Lula em um discurso de meia hora diante de estudantes, professores sindicalistas e entidades vinculadas com a educação.

O evento na sexta-feira (8) à noite no Auditório Celso Furado do Espaço Anhembi, zona norte de São Paulo, deu espaço para representantes de organizações estudantis manifestassem repúdio à violência da PM de Geraldo Alckmin nos protestos de estudantes secundaristas. Lula recebeu um beijo de uma das professoras que discursou e começou contido a falar.

Sentado e com seus óculos redondos, leu um pedaço de papel agradecendo a cada um dos presentes. Não começou falando alto. Cumprimentou o povo que se espremeu diante do palco. “Peço desculpas pra todo mundo pela minha voz. Vocês vão perceber que ela vai se perder no caminho. Eu fui num médico e ele me receitou antibiótico. Eu devo começar a tomar amanhã. Mas o que eu queria tomar era outra coisa”, comentou, com gargalhadas ao redor e pensando na sua cachacinha.

Recebeu um buquê de flores vermelhas no palco e até abraçou uma criança.

Lula então se levantou da mesa e começou a andar pelo palco do Anhembi, erguendo o tom de voz. “Nós nunca investimos tanto em educação. Fizemos universidades, ProUni e a Dilma fez o Ciências Sem Fronteiras. Depois de 100 anos, a gente mandou milhares de estudantes universitários pro exterior”.

“E eu não entendo todo esse ódio. Isso me lembra o discurso de Hitler que fez nascer o nazismo e cassou os partidos de esquerda na história.”

O ex-presidente gesticulava, arrancava gritos de “não vai ter golpe” mesmo num espaço fechado, como se estivesse no mesmo palanque que fez história na Avenida Paulista, no dia 18 de março. Lula demonstrava perplexidade e aproveitou tanto para criticar o autoritarismo de Geraldo Alckmin, com sua Polícia Militar que atirou balas de borracha em estudantes menores de idade, quanto o juiz Sergio Moro e a Operação Lava Jato.

“Delação premiada me cheira Big Brother Brasil. Me cheira isso, parece programa de TV com votação e gente torcendo. Ontem eu vi uma notícia de que uma empresa teria prestado delação premiada. Essa empresa é de Minas Gerais e é ligada aos tucanos. Fiquei surpreso porque, nas notícias que aparecem na imprensa, não aparecem eles. Será que as empresas dos tucanos têm um cofre de dinheiro sadio e a gente tem um cofre de dinheiro podre? O PT só vai no cofre de dinheiro podre? Ô Rui Falcão, manda o PT pegar o dinheiro do cofre dos tucanos, poxa”, afirmou no ponto mais alto da noite.

Ele ironizou a delação de Otávio Marques de Azevedo, ex-presidente da empreiteira Andrade Gutierrez. Lula também prestou uma homenagem às vítimas da PM de Alckmin que morrem nas favelas. Diz que tem respeito pela imprensa e arrancou do público “o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo!”. Mas completou: “Só que eu não consigo lembrar quando a imprensa me tratou com respeito, mesmo quando eu era presidente aprovado por mais de 80% da população. Eles destilam ódio no horário nobre e estão tentando transformar o Brasil numa sociedade meio a meio. Não irão transformar esse povo maravilhoso, que tem orgulho de andar de vermelho, num povo raivoso. Quem vai na Paulista vestido de verde e amarelo, todo alinhado, é desinformado”. E o ex-presidente disse que é necessária uma regulação de mídia contra as nove famílias.

Apesar de criticar a Lava Jato de Moro e a violenta polícia de Alckmin, Lula não poupou Dilma e nem sua política econômica. “Fico me perguntando por que a Dilma incomoda tanto eles que querem o impeachment, o golpe. A Dilma deveria estar incomodando a nós, que não gostamos do pacote das reformas que ela apresentou. A gente quer ajudar a Dilma a mudar a política econômica, a fazer uma que traga esperança para o nosso povo”. O discurso dele era contra os cortes.

Mesmo fazendo a autocrítica, o ex-presidente que articula para ajudar sua sucessora mostra que tem lado no seu recado à juventude. “Estamos do lado dessa molecada que está brigando por direitos contra o governo. Queremos provar que não ficaremos de cabeça baixa e que vamos conquistar mais. É tudo o que esse povo não quer”.

De forma discreta, Lula foi embora sem conversar com a imprensa. Já tinha dado seu recado certeiro à Lava Jato e aos tucanos diante da juventude que cresceu no seu governo.