Em um diálogo que durou cerca de 30 minutos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conversou nesta segunda-feira (10) com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, defendendo a participação do país em guerra nas negociações para um acordo político que possa encerrar o conflito na Ucrânia. A ligação do líder russo ao petista ocorreu enquanto a cúpula dos chanceleres do BRICS começava na Rússia, e foi marcada pela insistência de Lula em incluir Moscou nas discussões de paz.
Às vésperas de uma reunião organizada na Suíça, que reunirá mais de 90 governos do mundo todo no próximo fim de semana, Lula recusou um convite para participar, argumentando que um encontro que contemple apenas o lado ucraniano não faria sentido.
O Brasil também decidiu não enviar seu chanceler, Mauro Vieira, nem o assessor especial Celso Amorim, deixando a representação brasileira a cargo da embaixada em Berna, sinalizando a pouca importância política que o governo atribui ao evento. O governo brasileiro teme que a reunião na Suíça seja utilizada para legitimar a posição do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, que se recusa a negociar enquanto tropas russas estiverem em território ucraniano.
“Sobre a Ucrânia, o presidente Lula reiterou a defesa de negociações de paz que envolvam os dois lados do conflito, em linha com documento assinado pelos assessores presidenciais Celso Amorim e seu homólogo chinês Wang Yi”, afirmou um comunicado do Palácio do Planalto. O documento entre Brasil e China sugere uma desescalada do conflito e uma negociação que inclua tanto Kiev quanto Moscou.
O posicionamento do Brasil gerou insatisfação entre os ucranianos, que acusaram o governo Lula de “aliar-se” aos russos. Em resposta, o Planalto destacou que “o presidente Lula reforçou a necessidade de uma ampla reforma do sistema de governança global, a ser debatido no âmbito do G20, que reflita os novos arranjos geopolíticos mundiais e reforcem o papel das Nações Unidas como espaço de concertação para a prevenção de conflitos”.
No ano passado, Putin já havia comunicado a interlocutores brasileiros que não poderia aceitar a proposta de Kiev, pois a considerava uma capitulação. Lula, por sua vez, disse ao presidente ucraniano que não acreditava na possibilidade de um acordo unilateral para acabar com a guerra.
Durante a conversa, Putin expressou solidariedade com as vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul e discutiu com Lula a cooperação econômica bilateral e a governança multilateral.
Putin também mencionou a recente visita da presidenta do Banco do BRICS, Dilma Rousseff, ao Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, e a viagem do vice-presidente Geraldo Alckmin à China para participar da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação.