Lula renova mandato de Gonet na PGR às vésperas de julgamento de Bolsonaro

Atualizado em 27 de agosto de 2025 às 19:39
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, e o presidente Lula — Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou nesta quarta-feira (27) a recondução de Paulo Gonet ao comando da Procuradoria-Geral da República (PGR). Atual procurador-geral desde dezembro de 2023, Gonet terá novo mandato de dois anos à frente do Ministério Público Federal. A decisão será publicada no Diário Oficial da União e depende de aprovação pelo Senado, em sabatina conduzida por Davi Alcolumbre (União-AP). Com informações do G1.

A medida ocorre em um momento de tensão política e diplomática. No mês passado, os Estados Unidos suspenderam os vistos de oito ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e também de Gonet. A decisão foi anunciada pelo secretário de Estado Marco Rubio, do governo Donald Trump, como resposta ao que chamou de “perseguição” contra Jair Bolsonaro. O Planalto tratou o gesto como interferência estrangeira e classificou a suspensão como arbitrária.

Antes de ser reconduzido, Paulo Gonet esteve no Palácio do Planalto para reunião com Lula, onde foi informado da decisão. Nos bastidores, integrantes do governo apontam que a assinatura também funciona como um desagravo após a cassação do visto pelo governo norte-americano. No Planalto, a recondução é considerada estratégica, já que Gonet terá papel central no julgamento da ação sobre a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023.

Donald Trump, presidente dos EUA, e Marco Rubio, secretário de Estado. Foto: reprodução

A manifestação recente do procurador reforçou o pedido para intensificar o monitoramento de Jair Bolsonaro. Gonet defendeu a presença de policiais em tempo integral para fiscalizar o cumprimento das medidas cautelares impostas ao ex-presidente, incluindo prisão domiciliar e tornozeleira eletrônica. Ele ressaltou que a vigilância não deve ser invasiva nem comprometer a vida familiar.

O julgamento no STF começa no dia 2 de setembro, na Primeira Turma da Corte, e terá Jair Bolsonaro como principal réu. Segundo a Polícia Federal, foi identificado risco de fuga, inclusive com possibilidade de pedido de refúgio em embaixadas, além de um rascunho de solicitação de asilo à Argentina encontrado em celular do ex-presidente.

Apesar da coincidência com o calendário do julgamento, o secretário de Comunicação do governo, Sidônio Palmeira, negou que a recondução de Gonet esteja relacionada ao caso. Segundo ele, trata-se de uma renovação natural de mandato. Ainda assim, o gesto é lido politicamente como sinal de fortalecimento da atuação da PGR no processo que envolve o ex-presidente.