Lula sempre soube que teria dificuldade nos tribunais: “Se pudessem, me matavam”. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 5 de abril de 2018 às 17:05
Na foto de Ricardo Stuckert, gaúcho chega para ouvir Lula: “meu compromisso é com o povo trabalhador”

Um dia depois da sessão infame em que o Supremo Tribunal Federal negou habeas corpus ao ex-presidente Lula, revi alguns vídeos das gravações que fiz durante a Caravana de Lula pelo sul do País — estou preparando uma videorreportagem. E me deparei com um que explica bem o atual momento da política brasileira. Falando a pessoas em Panambi, no Rio Grande do Sul, uma das últimas cidades que ele visitou no Estado antes de ir para Santa Catarina, no dia 23 de março, Lula disse que, se pudessem, seus adversários o matariam. Cansados de perder a eleição para ele, os adversários, segundo Lula, pensaram:

“Como é que a gente vai tirar o Lula? Ah, matar? Matar é difícil porque pode pegar mal. Nós vamos ser acusados de ter matado um candidato a presidente. Dar um golpe militar? Nós já demos vários golpes militares, o último durou 23 anos e não resolveu o problema. O problema de general não é governar, nem cuidar de povo, é cuidar da tropa contra inimigos externos, e não contra inimigo interno. Então, qual é o jeito que a gente vai tirar o Lula? Em eleição? Em eleição, esse cara pode ganhar no primeiro turno. Esse povo mais pobre, esse povo trabalhador, a classe média baixa vai votar nele, então nós não podemos deixar. Como é que a gente vai fazer? Vamos inventar uma mentira contra o Lula. Essa mentira vai ser contada pela imprensa. Quando a mentira for contada, a Polícia Federal vai fazer um inquérito, o inquérito será um inquérito mentiroso, e o Ministério Público vai fazer uma acusação. Essa acusação é mentirosa. E o Moro vai fazer um julgamento mentiroso. Porque ele me condenou por um apartamento que ele sabe que não é meu, ele sabe porque ele é estudado e sabe que não é meu.”

Lula sempre soube que teria grandes dificuldades no Judiciário, por causa da aliança entre juízes e a velha imprensa. Nem sempre é uma aliança explícita, às vezes é uma comunhão de ideias e pensamentos, um arranjo ideológico. No discurso em Panambi, ao tratar desta campanha para destruí-lo politicamente, Lula explicou por que o governo dele deu certo. “Meu compromisso é com o povo trabalhador deste país, as mulheres a juventude. Nós provamos que é possível melhorar a vida do povo”, afirmou.

Leia o trecho e o compare  ao discurso pedante dos ministros do Supremo que lhe negaram um direito fundamental de qualquer pessoa humano: não ser preso até o último recurso:

“Quando eu me elegi, eu disse: Eu quero governar o Brasil com um coração de mãe. Porque mãe é a coisa mais justa do mundo. Uma mãe pode ter dez filhos. Se ela tiver dez bifes, é um para cada um. Não tem isso do mais bonitinho querer comer dois, não. Se ela tiver um mais doentinho, é aquele mais fraquinho em quem ela vai fazer um chamego a mais, uma colher de feijão a mais, alguma coisa a mais para ele. Eu falei: Nós vamos governar o Brasil como um coração de mãe, e este País foi embora, este País cresceu de forma extraordinária.

E eles então resolveram, eles pensaram: como é que a gente vai tirar o Lula? Ah, matar? Matar é difícil porque pode pegar mal. Nós vamos ser acusados de ter matado um candidato a presidente. Dar um golpe militar? Nós já demos vários golpes militares, o último durou 23 anos e não resolveu o problema. O problema de general não é governar, nem cuidar de povo, é cuidar da tropa contra inimigos externos, e não contra inimigo interno. Então, qual é o jeito que a gente vai tirar o Lula? Em eleição? Em eleição, esse cara pode ganhar no primeiro turno. Esse povo mais pobre, esse povo trabalhador, a classe média baixa vai votar nele, então nós não podemos deixar. Como é que a gente vai fazer? Vamos inventar uma mentira contra o Lula.

Essa mentira vai ser contada pela imprensa. Quando a mentira for contada, a Polícia Federal vai fazer um inquérito, o inquérito será um inquérito mentiroso, e o Ministério Público vai fazer uma acusação. Essa acusação é mentirosa. E o Moro vai fazer um julgamento mentiroso. Porque ele me condenou por um apartamento que ele sabe que não é meu, ele sabe porque ele é estudado e sabe que não é meu.

A casa de vocês não será a casa de vocês se vocês não tiverem escritura, se vocês não tiverem comprado, se vocês não tiveram pago. Se vocês estiverem morando numa casa que não é de vocês, vão chamar a Polícia e vão expulsar vocês. Então, ele diz que eu tenho um apartamento que eu não tenho. Ele sabe que eu não tenho. No recurso, reconhece que eu não tenho, mas me condenou.

Condenar o Lula é uma coisa legal, porque a gente coloca ele com uma ficha suja, e aí ele não pode ser candidato e não pode reclamar porque foi a Justiça. Não foi a Justiça, foi a injustiça. Porque eu sou um pernambucano que vim para São Paulo com sete anos de idade, porque na minha terra, o Nordeste, quando a gente nasce e não morre até os cinco anos de fome, a gente vira um bicho brigador, a gente fica um bicho resistente, e eles não sabiam que estavam lidando com um cara que tem caráter, e um cara que tem honra. O meu compromisso é com o povo trabalhador deste País. O meu compromisso é com as mulheres deste País, com a juventude deste País, porque nós provamos que é possível melhorar a vida do povo.”