Lula, sobre resistência ao governo Bolsonaro: “estou disposto e esperançoso”

Atualizado em 20 de novembro de 2019 às 15:52

Publicado originalmente na Rede Brasil Atual.

Em sua primeira entrevista exclusiva após ter passado 580 dias como preso político, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a afirmar que pretende viajar o país, discutir política com a população e “levantar o moral da tropa” como forma de ampliar a resistência contra a retirada de direitos imposta pelo governo Bolsonaro. “Estou disposto e esperançoso e é isso o que eu sei fazer”, afirmou, ao escritor Fernando Morais e às jornalista Aline Piva e Ana Roxo.

“Primeiro, estou vendo o governo destruir o país, o Bolsonaro querendo governar com fake news pra todo lado e o Guedes vendendo o Brasil e destruindo o que foi construído como patrimônio do povo”, disse o ex-presidente, citando ainda desemprego muito alto, salário muito baixo, renda média caindo, piora da qualidade da educação, acabando investimentos em ciência e tecnologia e a maneira como o governo atual está lidando com a tragédia ambiental do vazamento de óleo que atinge o litoral brasileiro.

Lula respondeu ainda sobre a insistência dos que cobram ” autocrítica” do PT, afirmando que o partido “acertou muito mais que errou”, enumerando as várias conquistas dos governos progressistas do país, como a ampliação do acesso de estudantes pobres ao ensino público, a erradicação da fome e diminuição da pobreza, entre outros.

“O PT precisa dizer que tem lado e não ter vergonha das pessoas que o apoiam. O PT é o mais importante partido de esquerda da América Latina, o grande partido desse país. Por que vamos abrir mão dessa grandeza? A bronca que se tem contra o PT é por suas virtudes e não pelos seus defeitos”

Lula disse que o partido deve priorizar candidatos próprios nas próximas eleições, mas que aceitará tranquilamente fazer alianças com partidos progressistas em casos de segundo turno. “Um partido do tamanho do PT tem que ter candidato, até para usar seu tempo de TV para se defender dos ataques que sofre. Se o PT não for para o segundo turno, apoia um candidato que seja progressista, que seja da esquerda”.

Em relação a Ciro Gomes, que já anunciou que não participará de uma grande aliança das forças progressistas do país contra o avanço neoliberal e os ataques à democracia e aos direitos da população, o ex-presidente disse apenas ser grato ao ex-ministro de seu governo. “Eu sou grato a ele por ter trabalhado comigo e ter sido leal. O Ciro não é um homem de debate político. É um homem de uma verdade só, que é a dele. Eu fico pesando o que o Ciro fez. As coisas boas e ruins, e prefiro ficar com as boas. Ele nos ajudou no governo. Agora, ele escolheu ir pra Paris no segundo turno e xingar o povo que votou no Haddad e não nele”, disse.

Suspeição de Moro

Lula voltou a criticar o ministro da Justiça, Sérgio Moro, e o chefe da força-tarefa da Operação Lava, o procurador do Ministério Público em Curitiba Deltan Dallagnol, pela série de processos contra ele instaurados no âmbito daquela operação. O Senado discute a PEC da Segunda Instância nesta quarta-feira (21).

“Quero provar que quem montou quadrilha foi Moro e Dallagnol. Canalhas. Espero que o Congresso tenha juízo. Esse cidadão (Dallagnol) deveria ter sido exonerado e ter sido preso. Moleque irresponsável. Eu quero justiça e justiça passa por esses cidadãos serem punidos.”

O ex-presidente afirmou que deixou a prisão sem rancor, mas o que mais deseja é a anulação do processo do chamado triplex do Guarujá.  A defesa de Lula busca a anulação do processo por considerar que o julgamento de Moro foi parcial. Conversas reveladas pelo portal The Intercept Brasil, em parceria com outros veículos de comunicação mostram que o agora ministro de Bolsonaro orientou os trabalhos da investigação, juntamente com os integrantes da força-tarefa da Lava Jato, com o objetivo de incriminar o ex-presidente e retirá-lo das eleições do ano passado.

Fake news e internet

Lula reconheceu que a esquerda precisa evoluir no uso político de redes sociais, como a direita tem feito massivamente. ‘A direita aprendeu a utilizar as redes sociais mais do que nós. Nós temos que nos preparar para combater as mentiras tentando falar as coisas mais sérias possíveis.” Ele reafirmou que a retomada do debate político com seriedade é que pode reverter o mau uso das redes sociais em benefício dos projetos anti-populares. “É o discurso na rua que pode fazer o povo a ir para a internet. É preciso ter mensagem política.”

Ele afirmou ainda que o PT vai buscar usar melhor a internet nas próximas eleições. “O PT está engatinhando ainda. Pelo tamanho que é, deveríamos ter uma rede quase imbatível. Mas vamos chegar lá”