Em dois dias na Europa, Lula teve mais encontros com políticos que Bolsonaro no G20

Atualizado em 15 de novembro de 2021 às 8:58
Lula com as deputadas alemãs Yasmin Fahimi e Isabel Cadermatori, eleitas em setembro

O ex-presidente Lula encerrou uma agenda cheia em Berlim neste sábado. A maioria dos parlamentares com quem ele se encontrou criticou publicamente Bolsonaro e deu sinais de apoio à candidatura de Lula à presidência brasileira.

Em dois dias de agenda na Europa, ele teve mais encontros com personalidades políticas do que Bolsonaro no G20.

Lula encontrou as deputadas alemãs do partido socialdemocrata Yasmin Fahimi e Isabel Cademartori, Gregor Gysi, deputado alemão do partido A Esquerda, Heinz Bierbaum, presidente do Partido Europeu de Esquerda, o ex-presidente do Parlamento Europeu Martin Schulz, que o visitou quando estava preso em Curitiba, e o vencedor das últimas eleições legislativas à chancelaria alemã Olaf Scholz.

O ex-presidente se reuniu com lideranças sindicais alemãs e a Uneafro Brasil.

“Lula é a esperança do Brasil de por fim à política de divisão e agitação de Jair Bolsonaro. Lula, foi uma honra encontrá-lo em Berlim. Boa sorte para os próximos meses”, desejou Martin Schulz, nas redes sociais, em discreta referência às eleições presidenciais. O think tank Friedrich Ebert Stiftung, dirigido por Schulz, também se posicionou: “Obrigado por sua visita, querido Lula!”.

“Os brasileiros merecerem um presidente melhor que o incompetente e perigoso Jair Bolsonaro”, disse Gregor Gysi, posando em foto com Lula e Heinz Bierbaum.

“Bolsonaro nega a periculosidade do coronavírus e legalizou armas automáticas. Ambos fizeram várias vítimas na sociedade brasileira. Concordamos que é dever da esquerda trazer de volta uma perspectiva aos jovens”, afirmou Gysi, presidente do grupo A Esquerda no parlamento alemão.

“A pobreza e a falta de perspectiva devem ser superadas por uma boa formação e bons salários. Desejamos a Lula todo o sucesso nas eleições presidenciais e o apoiaremos #Lula2022”, anunciou o político de Berlim.

“Encontrei o ex-presidente do Brasil Lula em Berlim para discutir a atualidade. No ano que vem, haverá eleições no Brasil. Uma mudança política é esperada há muito tempo. Se Lula for candidato, ele terá todo o meu apoio e nossa solidariedade!”, declarou Heinz Bierbaum, deputado do estado de Sarre.

“É uma grande honra conhecer o ex-presidente do Brasil Lula. Conversamos sobre sua visão de uma política social e sustentável para o Brasil que protege os recursos naturais. Após os resultados desastrosos do mini-Trump Bolsonaro, há muito a ser feito”, publicou Isabel Cademartori, recém-eleita deputada do partido socialdemocrata alemão, em sua conta no Twitter, numa referência a Jair Bolsonaro.

Seu avô foi ministro do governo Allende no Chile e preso pelo regime Pinochet, sendo exilado em 1976, quando partiu para Venezuela, Cuba e Alemanha oriental.

Deputada desde 2017, e membro do grupo de amizade teuto-brasileiro do parlamento alemão desde 2018, Yasmin Fahimi disse que “é uma felicidade e uma honra vê-lo aqui hoje, com saúde e sua vontade de lutar pela democracia no Brasil”.

“A luta contra a pobreza e a proteção ao meio ambiente tem que andar de mãos dadas”, disse Fahimi.

Sindicalista do setor da energia, ela se reuniu com Lula no Brasil e na Alemanha, em 2014 e 2015, e esteve no Brasil em 2019, em protesto contra a prisão do ex-presidente. Esse é o segundo encontro com a deputada desde 2020, quando Lula foi à Europa receber a cidadania honorária de Paris.

Aloizio Mercadante também participou do encontro com as deputadas.

Segundo a assessoria de imprensa do PT, eles conversaram sobre a situação política na Europa e no Brasil, as perspectivas de formação de um novo governo da SPD na Alemanha, que Lula considerou “a mais recente vitória da democracia no mundo aconteceu aqui na Alemanha”.

“Estou encantado por nossas boas discussões e não vejo a hora de continuar nosso dialogo”, disse Scholz, o provável futuro primeiro-ministro, atual ministro de Finanças alemão, em seu perfil no Twitter.

“Encerrando a passagem por Berlim com uma agradável conversa com Olaf Scholz, vencedor da eleição alemã em setembro. Falamos sobre o processo que está em curso para a formação de um novo governo e sobre a importância de fortalecer a cooperação Brasil-Alemanha”, disse Lula em sua conta no Twitter.

Lula se reuniu com Reiner Hoffmann, presidente da Confederação Alemã de Sindicatos, Michael Vassiliadis, presidente do Sindicato de Minas, Química e Energia, Frank Werneke, presidente do Sindicato Unido de Serviços e Christiane Bonner, 2º presidente do sindicato IGMetall.

A agenda do ex-presidente incluiu a Uneafro, organização em defesa dos direitos humanos para a população negra e periférica por meio da educação popular: “Encontramos o ex-presidente durante nossa passagem por Berlim. Participamos da comitiva da Coalizão Negra na COP26 (Convenção do clima) e seguimos pela Europa para denunciar o racismo ambiental”, publicou o movimento.

Bruxelas

Lula deixou Berlim neste sábado e já está na capital belga, mas não tem agenda pública neste sábado e domingo. Na segunda-feira, o ex-mandatário será o principal convidado de uma Reunião de Alto Nível promovida pelo grupo social-democrata e partidos socialistas europeus no plenário do Parlamento Europeu.

Intitulado “Juntos através da crise por uma nova agenda progressista”, o evento reunirá em Bruxelas líderes da Europa e da América Latina, para apresentar propostas para os desafios no mundo pós-pandemia.

Além de Lula, que deve fazer um dos discursos de abertura, o evento contará com Josep Borrel, chefe da diplomacia e vice-presidente da União Europeia; José Luis Rodríguez Zapatero, ex-primeiro-ministro da Espanha; Claudia Nayibe López Hernández, prefeita de Bogotá (Colômbia), a líder do bloco socialdemocrata Iratxe García Pérez e a distância Claudia Sheinbaum Pardo, prefeita da Cidade do México.

O evento ocorrerá às 17h de Bruxelas, 13h, no horário de Brasília e será transmitido ao vivo pela internet. Uma entrevista coletiva está prevista para as 16h15 com Lula no Parlamento, na presença de Iratxe Pérez. A entrevista será transmitida ao vivo pelas redes sociais do ex-presidente.

Paris

Na terça e quarta-feira, a agenda é em Paris. Dia 16, Lula vai ao instituto de estudos políticos da capital francesa, a Sciences Po, para a conferência “Qual o lugar do Brasil no mundo de amanha?”. O evento marca os dez anos de concessão do título de doutor “honoris causa” da instituição ao ex-presidente.

Quarta, ele recebe da revista Politique internationale o prêmio “Coragem Política 2021”. A decisão da publicação trimestral considera a “obra que ele realizou ao longo de seus dois mandatos, marcada pela vontade de promover a igualdade racial e social no seu país”.

A publicação, que dialoga com as principais personalidades políticas europeias e internacionais, lembra que mais de 30 milhões de brasileiros saíram da pobreza durante a presidência Lula.

Considera também “a tenacidade exemplar que ele revelou diante das perseguições políticas e judiciárias das quais ele foi alvo, esforços recompensados pela decisão do Supremo Tribunal Federal de anular suas condenaçoes”.

Outra razão de concessão do prêmio, na visão da revista francesa, é “a esperança que ele encarna novamente aos olhos de uma grande maioria de seus compatriotas, decepcionados com a presidência de Bolsonaro”.

Lula é a quarta personalidade na história da publicação a receber o prêmio do conselho editorial.

O primeiro foi Anuar al Sadat, presidente do Egito em 1981, por “ter ido a Jerusalém contra a vontade do mundo arabe e por ter assinado acordo de paz com Israel”. O segundo foi Frederik de Klerk, em 1992, “por sua grande contribuiçao no desmantelamento do apartheid”.

Em 2004, foi a vez do papa Joao Paulo II, “por sua contribuiçao decisiva no desmantelamento do império soviético e queda do comunismo na Europa, assim como seu combate pelos direitos humanos levando-o a execrar todos os ditadores de direita e de esquerda do planeta”.

Lula também vai se reunir ainda na terça-feira a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, candidata socialista à presidência francesa. Depois, o presidente segue para a Espanha, onde vai se encontrar lideranças de esquerda.