
O presidente Lula deve usar resultados recentes de pesquisas de opinião como principal base para decidir pelo veto ao Projeto de Lei da Dosimetria, aprovado pelo Senado Federal na noite de quarta-feira (17). No Palácio do Planalto, a avaliação predominante é de que a proposta enfrenta forte resistência social, sobretudo por ser associada à possibilidade de beneficiar envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro.
De acordo com relatos de aliados, ele tem citado levantamentos que apontam rejeição majoritária ao projeto, inclusive entre eleitores considerados de perfil moderado. Pesquisas divulgadas recentemente por institutos como Quaest e AtlasIntel indicam que a maior parte da população se posiciona contra o PL da Dosimetria.
Em conversas reservadas com senadores da base ao longo da última semana, o presidente teria reforçado que sancionar o texto poderia gerar desgaste político desnecessário. A leitura interna é de que o impacto negativo junto à militância de esquerda seria imediato, já que o projeto é visto por esse grupo como uma forma indireta de anistia.
Assessores avaliam que o custo político de uma eventual sanção superaria qualquer ganho institucional. A preocupação central é manter a coerência do discurso do governo em defesa da responsabilização dos envolvidos em atos antidemocráticos e evitar ruídos com a base social que sustenta o governo.

A expectativa no Planalto é que Lula anuncie sua decisão nos próximos dias. O timing da comunicação é tratado como estratégico para impedir que se consolide a narrativa de que a própria base governista teria articulado a aprovação da proposta no Congresso.
Nesse contexto, o governo também busca conter danos internos. Relatos feitos à CNN Brasil indicam que Lula ficou incomodado com a atuação do líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), durante a tramitação do projeto.
Segundo essas informações, Wagner teria costurado, sem aval direto do Planalto, um acordo de procedimentos que permitiu a votação do PL da Dosimetria na Comissão de Constituição e Justiça. A iniciativa teria como objetivo destravar a pauta para viabilizar propostas econômicas de interesse do Executivo.
Apesar de reconhecer o esforço para avançar medidas arrecadatórias, auxiliares presidenciais consideraram a movimentação imprudente. O desconforto aumentou após o senador mencionar, em discurso na CCJ, a possibilidade de sanção presidencial antes do Natal, o que provocou reação negativa imediata entre setores da militância de esquerda.