Lula X Fernando Henrique

Atualizado em 14 de junho de 2013 às 12:02
Delfim, Neto em 1978, quando era ministro da Fazenda

 

Meu texto sobre a doença de Lula gerou um debate animado.

A controvérsia ficou centrada em torno de um tema que haverá de ocupar os livros de histórias no futuro: quem é maior, Fernando Henrique ou Lula?

Sou daqueles raros jornalistas que não apenas pregam como praticam o apartidarismo. Sou a favor do leitor e, por extensão, daquilo que julgo ser melhor para a sociedade. Voto não de acordo com partidos, mas com causas e ideais. Meus julgamentos são mais movidos pelo cálculo – ainda que errado – do que pela paixão.

Votei algumas vezes em Lula. Contra Collor, por exemplo. Mas votei mais vezes em Fernando Henrique.

Isto posto, qual dos dois é maior?

Entendo que o maior mérito de ambos foi terem ajudado a mitigar a absurda desigualdade social que existe no Brasil. Por isso são dois gigantes. A desigualdade tardou extraordinariamente a ser combatida em nome de uma falácia consagrada na época do regime militar pelo então homem forte da economia, Delfim Neto. Segundo Delfim, era primeiro deixar “crescer o bolo” para depois dividi-lo.  Ora, isso é bom para quem tem acesso ao bolo – mas para o resto é um horror. Ficam esperando, e esperando, e esperando.

Esse disparate só recentemente foi desativado. Primeiro por Fernando Henrique, depois por Lula. O que distingue os dois é que a redistribuição de renda na era de Fernando Henrique foi um efeito colateral, não uma ação direta. O fim da inflação com o Plano Real acabou beneficiando quem menos tinha condições de proteger-se dela: os pobres. Os ricos e a classe média tinham, por exemplo, uma conta corrente que corrigia a inflação. O nome era “conta remunerada”. Para tê-la, você era forçado a um saldo fora do alcance dos pobres.

Fernando Henrique fez muito pelos pobres com o Plano Real. Mas seria hipocrisia dizer que beneficiar os desvalidos era a prioridade do plano.

Diferentemente, Lula combateu a miséria em si mesma. A redução da pobreza em sua era não foi efeito colateral, e sim fruto de uma ação disciplinada, organizada e colocada em prática por meio de programas como o Bolsa Família.

Por isso, por ter posto os pobres no topo de suas prioridades e assim deixado claro que o bolo tem que ser repartido enquanto cresce, Lula é maior.